Viver no Brasil antes de 1994 significava estocar comida, comprar dólares, ter um salário de milhões na carteira de trabalho e, mesmo assim, não conseguir comprar muito. A inflação corroía a economia. As pessoas, sem condições de planejar, viviam um dia de cada vez, sem possibilidade de programar o futuro. Diferentemente de hoje, comprar um carro naquela época era um dos melhores investimentos. Quanto mais velho o automóvel, mais caro ele ficava.
Com receio da possibilidade, mesmo que mínima, de um cenário como esse voltar ao Brasil, o Banco Central tem feito apelos à memória do brasileiro em discursos e documentos divulgados recentemente. ;A sociedade sabe que taxas de inflação elevadas geram distorções na economia, levam a aumentos dos prêmios de risco, deprimem os investimentos, subtraem o poder de compra de salários e reduzem o potencial de crescimento da economia;, disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, na última sexta-feira. O objetivo dessa comunicação mais dura é impedir que a inflação se realimente de expectativas ruins e saia do controle. Na prática, o recado é apenas um: se o custo de vida continuar a piorar, os juros básicos (Selic) vão subir.