Agência France-Presse
postado em 29/03/2013 11:32
Nicósia- O presidente Nicos Anastasiadis assegurou que o Chipre permanecerá na Eurozona e rejeitou nesta sexta-feira qualquer "experimento perigoso" que coloque em risco o futuro de seu país, enquanto os bancos da ilha voltavam aos horários normais, embora com diversas restrições.Os bancos cipriotas - que permaneceram fechados durante 12 dias até quinta-feira - retomaram nesta sexta-feira sua atividade normal, mas mantiveram as severas restrições de movimentos de capital para evitar grandes fugas de dinheiro.
O presidente cipriota afirmou que o plano de resgate de 10 bilhões de euros da troica - União Europeia, Banco Central Europeu e FMI - salvou o Chipre da quebra. Este crédito foi concedido em troca de um duro controle de capitais na ilha e de uma reestruturação de seu superdimensionado setor financeiro.
"Não vamos deixar a Eurozona, insisto nisso", disse o presidente em uma coletiva de imprensa diante de funcionários na capital, Nicósia, segundo a agência cipriota CNA.
"Repito, não vamos aplicar experiências perigosas que coloquem em risco o futuro de nosso país", afirmou Anastasiadis, que está em seu cargo somente há um mês.
Nesta sexta-feira, pequenas filas se formaram em frente às agências do Laiki Bank, segundo banco do país, que será liquidado em conformidade com o acordo concluído na segunda-feira entre o Chipre e seus credores internacionais.
A retirada em dinheiro dos bancos ou dos caixas automáticos está limitada a 300 euros por dia, pessoa e banco. Além disso, os pagamentos e transferências ao exterior não podem superar os 5.000 euros por mês e os viajantes que deixarem a ilha só poderão levar consigo 1.000 euros em dinheiro.
Retorno à normalidade na próxima semana
Na quinta-feira, a reabertura dos bancos ocorreu sem incidentes e Anastasiadis agradeceu aos seus compatriotas por seu "grande senso de responsabilidade".
No entanto, a vida econômica cipriota seguia perturbada nesta sexta-feira, com dificuldades para pagar salários, aluguéis ou contas devido a estas restrições.
"Irão ocorrer dificuldades e situações desagradáveis em relação aos salários", advertiu Michailis Antoniu, diretor-adjunto da patronal cipriota. No entanto, ele considerou que a maioria dos salários de março poderão ser pagos total ou parcialmente nos próximos dias.
"Na próxima semana, deveremos voltar à normalidade, com um sistema econômico que funciona. Mas a normalidade após o choque não voltará a ser jamais como antes do drama", afirmou Antoniu.
[SAIBAMAIS]
"Haverá um antes e um depois de 15 de março", advertiu, em alusão ao primeiro acordo sobre um plano de resgate, que previu taxas de até quase 10% a todos os depósitos bancários da ilha, e que posteriormente foi renegociado depois de ter sido rejeitado pelo Parlamento cipriota.
Nesta sexta-feira, muitas lojas e postos de gasolina não retiraram seus anúncios que informavam que apenas os pagamentos em dinheiro eram aceitos.
Já as alfândegas e outros serviços públicos, que até agora pediam pagamentos em dinheiro, passaram a aceitar novamente cheques, o que deve ajudar os importadores a recuperar suas mercadorias bloqueadas no porto de Limasol. Segundo o jornal Cyprus Mail, neste porto 2.500 contêineres estão parados, o dobro dos 1.200 que costuma abrigar normalmente.
Neste contexto, o Instituto de Finanças Internacional (IIF), que representa os maiores bancos do planeta, advertiu na quinta-feira que a economia da ilha mediterrânea sofrerá uma forte queda, com uma recessão que pode chegar a 20% do PIB nos próximos dois anos.
"O Chipre está sofrendo todos os custos vinculados (...) ao euro, sem desfrutar de nenhum de seus benefícios", disse o chefe economista do IIF, Philip Suttle, ao se referir à depressão que se aproxima do país.