Economia

Depois do tomate, feijão se torna o novo vilão entre os alimentos

Seca no Nordeste e excesso de chuvas no Sul prejudicam as colheitas, e preço da leguminosa já se aproxima do recorde alcançado em 2011

postado em 10/04/2013 06:01
Com safra insuficiente, o valor do produto sobe desde janeiro. Técnicos já falam em necessidade de importação
A alta nos preços do feijão, que já assusta donas de casa, não deverá ceder nos próximos meses, em razão do clima, o que faz do alimento o novo vilão dos indicadores de inflação, depois do tomate. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na manhã desta quarta-feira (10/4) que o grupo alimentação e bebidas respondeu por 60% da taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que ficou em 0,47%. O feijão-carioca foi um dos destaques da alta no período, com 9,08%.

Técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informam que a produção nacional, considerando as três safras anuais, continuará sendo prejudicada pelo excesso de chuvas no Sul e a prolongada estiagem no Nordeste. A incerteza climática terá efeito especial sobretudo na Bahia, importante estado produtor. Em levantamento divulgado na terça-feira, a Conab prevê colheita de 2,98 milhões de toneladas em todo o país, ante as 2,91 milhões no período anterior, uma alta de apenas 2,3%.

Os principais produtores nacionais da leguminosa alertam para a possibilidade de as cotações da saca de 60 quilos do feijão carioca baterem no recorde histórico alcançado em 2011, de R$ 290. Na época, o preço ao consumidor subiu mais de 100%, levando o governo a desovar os estoques oficiais no mercado. A situação atual também preocupa os técnicos da área econômica. Na semana passada, os valores giravam em torno de R$ 270, em virtude de intervalos na safra e perda da área plantada para o cultivo de milho e de soja. "O mercado interno estabelece um teto para as variações de preço. Quando ele se aproxima, há um recuo na procura e a migração para outros alimentos", explica Everson Orlando Lugarezzi, da Cooperativa Agropecuária Castrolanda, de Castro (PR).



Mauro Andreazzi, gerente da Coordenação de Agropecuária do IBGE, ressalta que a combinação de um período chuvoso no Sul, em amplo contraste com a seca nordestina, tirou 5% da estimativa das três safras feita em fevereiro, caindo para 3,2 milhões de toneladas. Embora seja maior que a da Conab, a projeção não desperta otimismo. "A produção é insuficiente para o consumo interno. Teremos de importar mais", disse.

A pouca chuva afeta especialmente a colheita dos pequenos produtores, que formam a maioria no Nordeste. Os estados de Pernambuco, Piauí e Ceará são os mais afetados, com quedas na colheita de 45,4%, 24,4% e 5,3%, respectivamente. Além disso, Andreazzi também informou que a infestação da mosca branca nas lavouras do Sul e do Centro-Oeste é outro importante fator de quebra da produção. Ele indica que, apesar de a Região Sul já ter acabado de colher a primeira safra, em janeiro, o Nordeste ainda não conseguiu o mesmo. O IBGE prevê uma deficit nas duas safras de 260 mil toneladas.

A enfermeira Rejane Sarmento, 38 anos, tem observado o preço do feijão subir desde janeiro. "Encontrava o quilo a R$ 3 e agora não compro por menos de R$ 6. É difícil substituí-lo", reclamou. O servidor Paulo Roberto Rocha, 56, lamentou que um item da cesta básica esteja tão pressionado. Ele não pensa em trocar o produto por outro em razão do preço. "Vou dar um jeito", prometeu.

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