O novo diretor da OMC, Roberto Azevêdo, é um experiente diplomata brasileiro que tem como prioridade acabar com a estagnação da Rodada Doha e revitalizar a organização à qual está ligada a maior parte de sua carreira.
Azevêdo, de 55 anos, é representante do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) desde 2008 e ganhou uma reputação de negociador e "construtor de consensos", dizem diplomatas.
Um de seus grandes desafios será reativar as negociações da Rodada Doha para a liberalização do comércio mundial, iniciadas em 2001 e estagnadas há anos por profundas diferenças entre os países do norte e os do sul.
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"Temos que encontrar uma solução para a Rodada, é prioritário. Enquanto a Rodada não encontrar seu caminho, todas as outras funções ficam paralisadas" na OMC, afirmou Azevêdo em entrevista no fim de semana.
"O risco que a OMC corre é que, se não negocia, não atualiza as regras, vai crescendo a lacuna entre as regras e o mundo atual dos negócios. Aí corremos o risco de que a organização vá perdendo relevância e que as negociações emigrem a outros fóruns", explicou.
Para Azevêdo, existe hoje um momento mais propício para retomar essas negociações que em 2008, em plena crise financeira, quando se verificou o impasse da organização. O brasileiro pede flexibilidade das partes para que as negociações não fiquem novamente paralisadas.
"Temos que pôr as negociações sobre a mesa com a cabeça aberta, com soluções mais criativas. Acredito que estamos em condições de negociar com um pouco mais de flexibilidade, identificar o que é possível", afirma.
Azevêdo, nascido no dia 3 de outubro de 1957 em Salvador, Bahia, estudou engenharia na Universidade de Brasília e logo entrou para a carreira diplomática. Na OMC, liderou os contenciosos históricos vencidos pelo Brasil contra os subsídios ao algodão nos Estados Unidos e contra os subsídios à exportação de açúcar da União Europeia.
Dessa experiência, afirma, aprendeu a lição: o importante é conseguir "um resultado satisfatório - para as partes- quando as diferenças são muito grandes".
O Brasil assumiu sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) um papel chave na OMC, onde se transformou em um dos maiores negociadores junto à União Europeia, Japão, China, Índia, Estados Unidos e Austrália.
Hoje mais questionado por algumas políticas consideradas protecionistas, o Brasil assumiu nesse momento uma firme defesa dos países em desenvolvimento frente aos Estados Unidos e Europa e liderou com a Índia um grupo de países em desenvolvimento que pede equidade na abertura dos mercados.
O Brasil, sob a batuta de seu então chanceler Celso Amorim, também foi reconhecido como um articulador de consensos entre o norte e o sul. Azevêdo afirma que será imparcial na posição de diretor geral da OMC.
Integrante do serviço diplomático brasileiro desde 1984, casado com uma diplomata e pai de duas filhas, Azevêdo ajudou a criar, em 2001, a divisão de Contenciosos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e foi seu primeiro chefe.
Também desde esse ano, e com cargos diversos, participou em quase todas as conferências ministeriais desde o lançamento da Rodada Doha para a abertura do comércio mundial em 2001.
"O que me chamou a atenção em Azevedo quando o conheci foi sua visão estratégica: dirigia o contencioso com a perspectiva ampla e clara de que servisse para criar jurisprudência e uma OMC mais eficaz. Também me impressionou a extrema confiança que sabe estabelecer com o setor privado e sua consciência da necessidade de fortalecê-lo", explicou à AFP Henrique Rzezinski, ex-presidente da fabricante de aviões brasileira, Embraer, e da Brittish Gas.
Rzezinski conheceu Azevêdo em 2001, quando Brasil e Canadá se enfrentaram na OMC por subsídios a suas aeronaves. "O caso serviu para se criar um acordo aeronáutico na OCDE, com Europa e Estados Unidos", explica.
Azevêdo passou a dirigir o departamento econômico do Ministério e, entre 2006 e 2008, foi subsecretário geral de Assuntos Econômicos.