postado em 11/05/2013 10:53
A crise econômica está fazendo a Europa deixar de ser o continente em que as políticas sociais diminuem os efeitos das desigualdades econômicas e permitem uma boa qualidade de vida ao conjunto da população. ;Querem criar o Estado de mal-estar na Europa;, critica Boaventura de Sousa Santos, o sociólogo português mais conhecido no Brasil, fazendo referência ao antigo welfare state [Estado de bem-estar] criado na Europa, a partir do final da Segunda Guerra Mundial (1945).
[SAIBAMAIS]Segundo Boaventura, a Europa está deixando de ser um continente de primeiro mundo para tornar-se ;um miniatura do mundo, com países de primeiro, segundo e terceiro mundos;. Ele se refere ao empobrecimento de alguns países e a falta de proteção aos cidadãos, como acontece em Portugal, Espanha e Grécia, mas com reflexos em todo o continente.
Para o sociólogo, o modelo de governança da União Europeia esvaziou-se e o projeto está desfeito de forma irreversível. Ele atribui ao ;neoliberalismo; os problemas enfrentados pelo continente, como o desemprego. ;Essa crise foi criada para destruir o trabalho e o valor do trabalho;, disse, ao encerrar em Lisboa um colóquio sobre mobilidade social e desigualdades.
Conforme os dados do Eurostat, há 26,5 milhões de pessoas desempregadas nos 27 países ; contingente superior a toda a população na Região Sul do Brasil (Censo 2010). Para o sociólogo, parte das demissões ocorre por alterações nas regras de contratação. ;Mudam os contratos de trabalho, mas não mudam os contratos das PPP;, disse se referindo às parcerias público-privadas contratadas entre governos e companhias particulares para a exploração de serviços como concessionários ou de infraestrutura.
Além da inflexão na economia e no plano social, Boaventura assinala transformações políticas, como o esvaziamento do poder decisório dos parlamentos, e dos lugares de ;concertação social;, como os portugueses chamam os conselhos e pactos criados para diminuir conflitos entre empresários, trabalhadores e governo. Na opinião do sociólogo, em vez dessas instâncias, se impõe a vontade dos credores externos, como acontece em Portugal, segundo ele, por causa da Troika (formada pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia).
Boaventura Sousa Santos diz que a ação direta da Troika leva à imobilidade do governo e questiona a racionalidade dos cortes dos gastos sociais que estão sendo feitos. Na Assembleia da República, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, disse que haverá convergência das pensões e aposentadorias de ex-funcionários públicos e ex-empregados privados. O chefe do executivo português afirmou que não é uma opção ajustar a economia e mudar direitos adquiridos. ;O país tem que ajustar;, defendeu
A oposição critica, diz que a medida é inconstitucional, e reclama do governo por tratar a austeridade como inevitável. De acordo com o secretário-geral do Partido Socialista, António José Seguro, em menos de dois anos de mandato de Passos Coelho 459 mil empregos foram cortados - quase a metade dos 952,2 mil desempregados contabilizados em março.