Economia

União Europeia e China têm muito a perder com uma guerra comercial

Os analistas acreditam que o aumento das tensões reflete a preocupação de ambos com a crise e seus efeitos devastadores

Agência France-Presse
postado em 17/05/2013 19:56
BRUXELAS - A recente tensão por acusações mútuas de protecionismo entre China e a União Europeia pode se agravar, mas ambos têm muito a perder com uma guerra comercial, alertaram analistas.

Em maio, as disputas cresceram sobre a proposta da União Europeia (UE) de impor obstáculos aos painéis solares chineses, mas antes, a Comissão Europeia ameaçou impor sanções comerciais aos fabricantes chineses de equipamentos para redes de telecomunicação móveis, como Huawei o ZTE, por ;dumping; e subsídios ilegais.

Os analistas acreditam que o aumento das tensões reflete a preocupação de ambos com a crise e os efeitos devastadores que ela está tendo em suas economias.

A China registrou em 2012 o crescimento mais baixo dos últimos treze anos, enquanto a Europa não consegue sair da crise, abalada por um forte desemprego, que afeta em particular os mais jovens.

"Acredito que o fato de que a União Europeia (UE) esteja em uma espiral de crescimento negativa não se pode separar das ações comerciais com a China", opinou Sergio Marchi, chefe do grupo Marchi, ex-diplomata e ex-ministro canadense que presidiu o Conselho Geral, órgão executivo da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Os políticos da UE querem demonstrar "a seus contribuintes que em momentos de crise e perda de emprego, são duros diante dos desafios que a China apresenta", disse Marchi.

"A UE deve ter cuidado de não ir longe demais. A China entende os meandros da política, mas é um país que não gosta de estar no foco da atenção pública, especialmente se correr o risco de ficar mal", acrescentou Marchi. "Então se decidem devolver o golpe, a UE pode terminar sendo o grande perdedor", acrescentou Marchi.



Uma jogada errada pode ser devastadora. As exportações da UE à China subiram a 212 bilhões e as importações do país asiático, a 334 bilhões.

A União Europeia é o maior sócio comercial da China e seu principal destino exportador, enquanto a China é o segundo sócio para a Europa depois dos Estados Unidos.

Os analistas dizem que os riscos são grandes considerando que na China há uma nova liderança que poderia ser mais sensível às provocações. Até agora, a reação de Pequim foi firme, mas ainda não representa um perigo.

Após a iniciativa europeia sobre os painéis, a agência oficial de imprensa Xinhua alertou à UE sobre a possibilidade de represálias. "A ideia de que a China continue inerte e aceite esses impostos de braços cruzados simplesmente não é realista", escreveu a agência.

A China "não quer entrar em uma guerra comercial com a União Europeia", disse esta semana o porta-voz de comércio chinês Shen Danyang. "Esperamos que a UE não tome medidas nocivas para ambas as partes", acrescentou Shen.

A UE conhece bem a sensibilidade chinesa e nos últimos dias obteve alguns acordos. Recentemente, a sueca Volvo anunciou um acordo de cooperação com o fabricante chinês de caminhões Dongfeng que a transformará no primeiro produtor mundial de veículos pesados, superando sua rival alemã Daimler. "Não há ganhadores nas disputas comerciais", apontou Louis Kuijs, economista no Royal Bank of Scotland.

Zhang Hanlin, da Universidade Internacional de Economia, destacou que os principais perdedores em uma guerra comercial com a China seriam os consumidores da UE, a indústria do bloco e não o país asiático. "A UE precisa do mercado global, porque depende da demanda externa", disse Zhang.

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