Economia

Efeito econômico da reforma migratória nos EUA causa grande controvérsia

Richwine foi co-autor de um estudo de Heritage que calculou o custo dessa reforma, que inclui uma via para a cidadania de 11 milhões de ilegais, em 6,3 trilhões de dólare

Agência France-Presse
postado em 29/05/2013 18:05
Washington - Verificar se a reforma migratória significa um obstáculo ou um estímulo à convalescente economia norte-americana é objeto de calorosos debates dentro e fora do Congresso do país, provocando inclusive demissões.

Jason Richwine, analista da fundação conservadora Heritage, abandonou o cargo no dia 9 de maio após ser descoberto que ele publicou, em 2009, um estudo em que constatava que o coeficiente intelectual dos hispânicos, o maior grupo de imigrantes dos últimos 50 anos, era inferior ao dos brancos.

Richwine, doutor pela Universidade de Harvard, previu ainda que a médio prazo essa tendência se manteria, já que os filhos e netos dos imigrantes hispânicos manterão suas dificuldades acadêmicas, porque seus pais continuarão ocupando postos de trabalho de baixa qualificação.

Para os defensores dos imigrantes, isso é negar a essência do próprio sonho americano. Eles conseguiram na semana passada uma importante vitória quando uma comissão do Senado aprovou o projeto de reforma.



Richwine foi co-autor de um estudo de Heritage que calculou o custo dessa reforma, que inclui uma via para a cidadania de 11 milhões de ilegais, em 6,3 trilhões de dólares.

O outro responsável pelo estudo, o economista também conservador Robert Rector, defendeu essa cifra nesta quarta-feira em um debate no Centro de Política Bipartidária, uma entidade que se esforça para reunir diferentes pontos de vista no polarizado cenário norte-americano.

"Com a atual situação fiscal, não podemos nos permitir gastar 6 trilhões com essas pessoas pela única razão de que chegaram aqui ilegalmente", disse Rector no debate.

Um analista do Centro para o Progresso Americano, próximo ao Partido Democrata, Robert Lynch, acredita, contudo, que, ao invés, de representar um custo para o contribuinte, a reforma representaria um aumento da arrecadação pública de 200 bilhões em dez anos.

Isso graças ao aumento da competitividade desses trabalhadores ilegais (cerca de 8 milhões atualmente) de no mínimo 25%, explicou Lynch. "Comparem isso com a desconhecida cifra de 6 trilhões de dólares que o doutor Robert acaba de mencionar", criticou Lynch no debate. "Somos uma nação muito complexa e a forma como redistribuímos esse dinheiro não se reflete sempre" nos estudos sobre a imigração, afirmou.

Concorrência global

A chave da disputa está em saber se os imigrantes receberão mais ajudas públicas do que contribuirão com impostos ou para a economia do país.

Para os conservadores, a resposta é clara: 59% dos lares com um chefe de família imigrante têm acesso a algum dos mais de 80 programas públicos sociais, segundo Steve Camarota, diretor de pesquisas do Centro de Estudos sobre a Imigração.

Para Rector, as implicações sociais e políticas ainda são mais sombrias, já que esses ilegais concorrem com a parte mais vulnerável da sociedade: os norte-americanos mais pobres, cujo volume aumentou a níveis recordes desde a crise de 2008.

Além disso, a entrada de milhões de ilegais ao mercado legal "provocará uma queda dos salários", disse Rector. "Lembrem: os onze milhões (de ilegais) já estão aqui", competindo dia a dia, replicou Robert Lynch.

A nível salarial, "os norte-americanos de baixo nível (de qualificação) concorrem com os trabalhadores de baixo nível em todo o mundo", lembrou Douglas Holtz-Ekin, ex-diretor do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO). O CBO deve publicar em breve um estudo atualizado do impacto da lei de reforma, que tem mais de 800 páginas e centenas de novas disposições. Rector alertou que o CBO só considera o impacto orçamentário durante os próximos dez anos.

A legalização definitiva dos ilegais acontecerá, se a lei for aprovada, em treze anos, lembrou. Há um aumento dos conservadores a favor da mudança na lei migratória: mais de 100 economistas dessa tendência política assinaram uma carta pública na semana passada a favor da reforma. O Senado deve examinar o projeto na semana que vem, após o retorno de uma pausa legislativa.

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