Economia

"É preciso ir devagar no ajuste do câmbio", diz Luiz Gonzaga Belluzzo

Maior crítico da política de valorização do real nos últimos anos, o economista prega a desvalorização progressiva da moeda para país voltar a ser competitivo

postado em 08/07/2013 06:05


O professor Luiz Gonzaga Belluzzo é considerado um dos mais influentes economistas keynesianos do Brasil. Integra, assim, a linha dos que se contrapõem à ortodoxia do monetarismo. Isso confere ainda maior importância ao que recomenda, nesta entrevista ao Correio, para a política cambial e a política fiscal do país.

Belluzzo é um dos maiores críticos do câmbio valorizado, que, afirma, erodiu a base industrial do Brasil ao longo das últimas duas décadas. Mas a reversão dessa tendência, com a alta do dólar, deverá ser lenta e progressiva, adverte, do contrário haverá mais inflação, e o ganho para a indústria será nulo.



Quanto ao superavit primário, a economia feita pelo governo para garantir o pagamento dos encargos da dívida pública, Belluzzo acha que poderia, do ponto de vista técnico, ser reduzido, obedecendo a uma política anticíclica neste momento de queda no crescimento econômico. Ele não recomenda, porém, tal caminho. Considera importante manter o superavit em pelo menos 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e assim restaurar a confiança na economia, o que beneficiará, acredita, o setor privado.

Não bastasse o peso das opiniões de Belluzzo por si só, é importante lembrar que elas são levadas em conta com muito cuidado no governo. Ele prefaciou um livro do ministro da Fazenda, Guido Mantega. E é professor, há décadas, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde a presidente Dilma Rousseff fez aulas de pós-graduação nos anos 1970 e 1980.

As previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano são cada vez menores. O senhor compartilha dessa expectativa?
O crescimento vai ser modesto por conta de vários fatores, inclusive o aumento da inflação. Ganhos obtidos com aumentos salariais estão declinando. Foi-se o efeito inicial dos reajustes do salário mínimo e das políticas sociais. Mas veja que estamos falando de crescimento baixo, não de recessão. Deverá acontecer uma mudança do crescimento baseado em consumo para o crescimento baseado em investimento.

Como fazer para que essa transição seja acelerada?
Você faz essa pergunta como se fosse para um mecânico de automóveis. Mas é algo muito mais complexo. As concessões, as parcerias público-privadas e os novos investimentos da Petrobras deverão resultar em maior crescimento, mas somente a partir do segundo semestre de 2014, a despeito dos desejos de que se realizem logo. Temos um problema muito grave, os 20 anos de valorização cambial, que foram muito danosos. É bom viajar para o exterior e comprar produtos importados baratos. Mas isso erodiu a nossa base industrial. Temos feito esse trabalho de destruir a indústria com muita acuidade. Diz um economista que essa é uma opção da sociedade, embora eu nunca tenha visto a sociedade se pronunciar sobre isso. Economistas em geral gostam de opções binárias: ou industrialização ou consumo e bem-estar. Fico impressionado. Acham isso bom porque simplifica tudo. Não é preciso pensar.

Maior crítico da política de valorização do real nos últimos anos, o economista prega a desvalorização progressiva da moeda para país voltar a ser competitivo

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação