Economia

Negociações de livre comércio EUA-UE começam em clima de tensão

Os motivos do clima de tesão são as revelações de espionagem norte-americana e o desejo da França de excluir do pacto a indústria cultural

postado em 08/07/2013 16:14
WASHINGTON -As negociações entre EUA e a União Europeia (UE) em busca de um acordo de livre comércio começaram nesta segunda-feira (8/7) em Washington em um clima de tensão após as revelações de espionagem norte-americana e o desejo da França de excluir do pacto a indústria cultural.

A primeira rodada das discussões começou às 11h50 (horário de Brasília) sem a presença de jornalistas entre o representante norte-americano de Comércio Exterior e o chefe das negociações europeu.

Esta reunião se foca em múltiplos temas que vão desde mercados públicos a investimentos, passando por propriedade intelectual. No final desta rodada haverá uma coletiva de imprensa conjunta, na próxima sexta-feira.

O objetivo do acordo é ambicioso: eliminar as barreiras alfandegárias e regulamentares que dificultam o comércio.

[SAIBAMAIS]As barreiras alfandegárias não são um problema: já são frágeis de ambos os lados, abaixo de 3% em média e sua eliminação é quase um consenso, apesar de alguns setores continuarem sendo protegidos (nos EUA as tarifas sobre o calçado podem atingir 50%, por exemplo).



As negociações devem se concentrar então nas regulamentações e normas que os produtos devem cumprir para que sua venda seja autorizada.

"O comércio livre e justo de um e do outro lado do Atlântico sustentará milhões de empregos norte-americanos bem remunerados", disse o presidente Barack Obama em fevereiro.

Com um acordo deste tipo, os norte-americanos poderiam reduzir seu déficit comercial: em 2012 importaram 380,8 bilhões de dólares de bens provenientes da Europa e exportaram muito menos, 265,1 bilhões, a esse destino. Contudo, recuperam terreno se for considerada a venda de serviços, em particular financeiros e de informática.

Para a UE o que está em jogo é ainda mais importante: uma possibilidade de combater a recessão que atinge a zona do euro há 18 meses e se beneficiar do moderado crescimento de seu sócio do outro lado do Atlântico.

"A razão pela qual decidimos realizar estas discussões agora é que estamos convencidos de que este acordo é bom para a Europa", disse nesta segunda-feira o comissário europeu de Comércio, Karel De Gucht, em Genebra.

--- Tensões por espionagem ---


As revelações sobre espionagem das legações diplomáticas da UE por parte da Agência norte-americana da Inteligência (NSA) pairam no ar e geram tensão entre as partes.

Paris ameaçou suspender temporariamente as discussões antes da solução sugerida pela Alemanha, de lançar as conversações e exigir, ao mesmo tempo, esclarecimentos de Washington.

Por isso, paralelamente às negociações comerciais, europeus e norte-americanos se reuniram nesta segunda-feira em Washington, no Departamento de Justiça, para tentar avançar neste caso delicado, segundo fontes próximas às discussões.

Uma das fontes, que pediu anonimato, disse que dois representantes da Comissão Europeia encarregados da segurança e dos direitos humanos iniciaram discussões pelo lado europeu e que representantes de cada um dos 28 Estados membros do bloco devem se reunir a eles.

"Vivemos um momento delicado em nossas relações com os EUA", disse a comissária de Assuntos Europeus, Cecilia Malmstroem, em uma carta à secretária norte-americana de Segurança Interna, Janet Napolitano.

"A confiança mútua foi seriamente erodida e espero que os EUA façam tudo o que estiver a seu alcance para restaurá-la", acrescentou.

Os especialistas estão divididos sobre o futuro do processo.

"Os governos da UE poderão se opor um pouco aos EUA, mas isso não terá efeito a longo prazo sobre o acordo", estima Joshua Meltzer, da Brookings Institution de Washington.

Gary Hufbauer, pesquisador do Peterson Institute, prevê "fortes atritos" em matéria de transferência de dados pessoais e particularmente bancários.

"Este ponto poderia significar novos obstáculos", acrescentou.

O comércio bilateral no ano passado alcançou um trilhão de dólares e os investimentos diretos bilaterais superaram os 3,7 trilhões de dólares segundo dados de 2011.

Um estudo do Centro para Pesquisa de Política Econômica em Londres informou que o acordo comercial TTIP, na sigla em inglês, poderia aumentar em 153 bilhões de dólares o PIB europeu e 122 bilhões o dos EUA.

As duas partes reúnem 820 milhões de habitantes.

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