Jornal Correio Braziliense

Economia

Detroit é a maior cidade dos Estados Unidos a declarar falência

A cidade perdeu a metade da população desde 1950, expulsa pela violência de gangues armadas, e em busca de melhores oportunidades devido à crise na indústria automobilística

Detroit, Estados Unidos - A cidade de Detroit, berço da indústria automobilística dos Estados Unidos, tornou-se na quinta-feira (18/7) a maior cidade americana a se declarar em concordata e a pedir ajuda legal diante desta situação, segundo documentos judiciais. Esta cidade, que chegou a ser a quarta maior do país, perdeu a metade de sua população desde 1950, expulsa pela violência de gangues armadas, e em busca de melhores oportunidades devido à crise na indústria automobilística, que derrubou a economia local.



A cidade, no noroeste dos Estados Unidos, tem uma dívida recorde de 18,5 milhões de dólares e as autoridades municipais já haviam anunciado mês passado que entraria em moratória em parte da dívida. Amy Brundage, porta-voz da Casa Branca, declarou à AFP que o presidente Barack Obama e sua equipe "seguem supervisionando" a situação.

"Os dirigentes em Michigan e os credores da cidade sabem que precisam encontrar uma solução para o sério desafio financeiro de Detroit, e nós seguimos comprometidos em colaborar com Detroit enquanto trabalha para revitalizar e manter seu status de uma das maiores cidades americanas", acrescentou o porta-voz em um comunicado.

[SAIBAMAIS]Casas abandonadas e recordes de criminalidade


A cidade oferece um aspecto desolador, há 78.000 edificios abandonados na cidade e 40% dos serviços de iluminação não funcionam. A falta de fundos para manutenção e reparações significa que apenas um terço das ambulâncias da cidade funcionam e os carros de polícia e dos bombeiros também estão em mau estado. A taxa de homicídios é a maior em quase 40 anos e, por mais de duas décadas, Detroit esteve na lista de cidades mais perigosas dos Estados Unidos.

Kevyn Orr, o administrador de emergência com experiência em falência nomeado pelo governador de Michigan para enfrentar o problema, resumiu a situação como resultado de "uma má gestão financeira, uma população em queda e uma erosão da base fiscal dos últimos 45 anos". Por sua vez, a câmara de comércio da cidade elogiou a declaração de quebra e considerou como uma "decisão valente".

Os fundos de pensão, aos que Detroit deve 9 bilhões de dólares, lançaram uma ação judicial para evitar o corte das pensões dos seus assinantes, apesar de a falência tender a parar temporariamente o processo. Agora, um juiz terá de pronunciar-se sobre se Detroit pode se beneficiar da lei de falências, permitindo renegociar sua dívida. "O maior desafio que temos é que não houve muitas quebras de cidades ao longo da história [...], por isso temos pouca experiência nesta área", disse à AFP Douglas Bernstein, um advogado especializado em falência.

Para além dos aspectos legais e financeiros, o colapso de Detroit é um reflexo do declínio da indústria automobilística nos Estados Unidos, que teve sua idade de ouro no início do século XX. Detroit foi o berço dos pesos pesados da indústria, o "Big Three" (Ford, Chrysler, General Motors). A cidade foi marcada por décadas de cultura automobilística, com bandas de rock como MC5 ("Motor City 5") ou a lendária Motown (abreviação de "Motor Town").