Economia

Dívidas e mercado paralelo são bombas relógio para a China

As autoridades anunciaram no último domingo (28/7) que o Tribunal de Contas chinês iria realizar uma auditoria urgente do conjunto da dívida pública e enviar inspetores às províncias e municípios a partir dos próximos dias

Agência France-Presse
postado em 30/07/2013 17:32
PEQUIM - A China, vítima dos desequilíbrios de seu sistema financeiro, luta entre o crescimento das dívidas públicas, em particular as dos governos locais, e a proliferação de instrumentos de crédito não-regulados, que, segundo especialistas, são bombas relógio.

As autoridades anunciaram no último domingo (28/7) que o Tribunal de Contas chinês iria realizar uma auditoria urgente do conjunto da dívida pública e enviar inspetores às províncias e municípios a partir dos próximos dias.

Uma semana antes deste anúncio, o Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou em um relatório, um forte aumento da dívida emitida pelas autoridades centrais e locais, que se eleva, segundo a instituição, a 45% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Economistas do banco Société Générale estimam que a dívida dos governos locais (províncias e municípios) provavelmente tenha passado de 10,7 trilhões de iuanes a 17,5 trilhões de iuanes (2,81 trilhões de dólares) desde a última auditoria, realizada em meados de 2011.

As autoridades locais pediram emprestado grandes quantias de dinheiro a fim de estimular a atividade econômica e as investiram, entre outras coisas, em grandes projetos de infraestrutura e suntuosos prédios oficiais, em alguns casos, sem rentabilidade nem muita relação com a economia real.

Neste contexto, as autoridades centrais decretaram recentemente um congelamento das construções de edifícios oficiais.

Paralelamente, os créditos concedidos ao setor privado aumentaram sensivelmente, em grande parte com base em instrumentos financeiros não-regulados (sociedades fiduciárias e organismos de micro-crédito) que se desenvolveram à margem dos grandes bancos estatais.

Este sistema de "shadow banking" (mercado paralelo) aumentou muito nos últimos dois anos e representava, no final de 2012, cerca de 29 trilhões de iuanes (4,68 trilhões de dólares), ou seja, 55% do PIB, segundo a Moody;s Investors Service.

Para Wei Yao, analista do banco Société Générale, "relutantemente, se opta por estas vias no oficiais para obter financiamento".

Os estabelecimentos bancários, controlados pelo Estado, preferem conceder empréstimos aos grandes grupos públicos e não às pequenas e médias empresas, que têm menos contatos com os quadros da administração e são consideradas menos confiáveis.

Além das empresas e dos particulares, as restrições ao crédito tradicional afetam os governos locais, os quais criaram entidades específicas para obter esses "financiamentos paralelos", acrescentou Wei Yao.

O total dos empréstimos bancários tradicionais e das "dívidas não tradicionais" equivale atualmente a cerca de 200% do PIB, quando em 2008, era de 130%, informou, em meados de julho, Markus Rodlauer, chefe de missão do FMI para a China.

Uma considerável crise de liquidez afetou, em junho, o mercado interbancário chinês, o que aumentou a preocupação pelo estado do setor financeiro em seu conjunto. O banco central, que tinha garantido, no final de junho, vigiar a estabilidade dos mercados monetários, anunciou nesta terça-feira que injetou cerca de 2,8 bilhões de dólares no sistema bancário.

Para Mark Williams e Wang Qinwei, analistas da Capital Economics, "muitos empréstimos concedidos a mutuários públicos nunca serão reembolsados" e, "em determinado momento, o Estado terá que resgatar entidades estabelecidas pelos governos locais" para endividar-se, o que não necessariamente "será feito com suavidade".

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