Carolina Mansur
postado em 04/08/2013 09:14
O boom do mercado imobiliário e de veículos faz parte do passado. As últimas pesquisas apontam quedas de vendas nos negócios, prejudicados principalmente pelas incertezas econômicas. O mercado de veículos novos está morno, depois de registrar recorde de vendas no ano passado. O de usados tenta se recuperar dos impactos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que os deixou em condições de venda semelhantes às dos novos e fez com que a clientela preferisse as versões zero-quilômetro. Na prática, no entanto, os novos ainda ganham a preferência dos consumidores. Já no caso dos imóveis, a situação é inversa. Enquanto as vendas de novos retraem, as de usados são mantidas.
O recuo maior de vendas foi sentido no mercado de unidades novas nas imobiliárias. Os seminovos e usados, por sua vez, mantiveram as vendas ou chegaram a ter crescimento de até 10% nos negócios no primeiro semestre. ;Como o valor do metro quadrado do imóvel novo continuou subindo em função do custo mais alto da construção civil, as unidades usadas foram a bola da vez;, afirma Fernando Morais, gerente da VPR Imóveis.
Os lançamentos imobiliários iniciados há dois anos acabam de chegar ao mercado de Belo Horizonte. Mas a demanda não acompanhou a oferta. O resultado foi que as placas de vende-se e aluga-se tomaram conta da capital nos últimos meses. ;A oferta cresceu e a demanda não está acompanhando;, afirma Ricardo Pitchon, presidente da holding imobiliária Brasil Brokers.
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Já as concessionárias exibem placas com ;preços e ofertas imperdíveis; para reverter o resultado do primeiro semestre. De acordo com a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas cresceram apenas 2,81% no primeiro semestre na comparação com igual período de 2012. Nos seis primeiros meses do ano, 1,85 milhão de veículos foram emplacados contra 1,80 milhão no mesmo período do ano passado no país. Em Minas, segundo o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), o recuo foi de 1,43% na venda de carros novos. Os dados mostram que no primeiro semestre foram regularizados 345.001 veículos, enquanto no mesmo período de 2012 foram 349.992.
A estratégia das concessionárias, na tentativa de recuperar os números, é oferecer taxas mais atrativas de financiamento e descontos. O resultado foi a retomada das vendas no mês passado, que subiram 4,77% em relação a junho, segundo dados do Sincodiv-MG. O gerente de vendas de veículos novos da Tecar, Shelber Morato, explica que os esforços são uma tentativa de igualar os resultados com os obtidos no ano passado. ;A queima de estoque é uma oportunidade para o mercado se recuperar;, diz.
Segundo o presidente do Sincodiv, Mauro Pinto de Moraes Filho, a movimentação do mercado ocorre para driblar problemas como o aumento real dos carros em função da inflação, queda da confiança dos consumidores, aumento dos juros e mais rigor por parte dos bancos na concessão de crédito aos clientes. ;Depois de o IPI já ter sido absorvido pelo mercado, ele por si só não desperta mais o senso de oportunidade no consumidor. É preciso fazer mais;, comenta.
No mercado imobiliário, os principais indicadores apresentaram em maio recuo para os imóveis novos, segundo pesquisa realizada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Para se ter ideia, o volume de vendas de imóveis na capital teve queda de 75,4% em maio, passando de 313 para 77 unidades, e também na velocidade de vendas, cujo índice retraiu de 14,76%, em abril, para 4,12% em maio. Como o número de apartamentos vendidos em maio foi superior ao de lançamentos, o estoque de imóveis diminuiu para 1.790, frente às 1.808 unidades que estavam disponíveis em abril. Segundo o Sinduscon-MG, esse movimento sinaliza que o segmento imobiliário não está passando ileso diante do cenário econômico mais desfavorável.
De acordo com as imobiliárias, o preço do metro quadrado de uma unidade nova na capital chega a custar R$ 12 mil em bairros nobres da Zona Sul, como o Bairro de Lourdes. Já para apartamentos de até 15 anos de alto luxo esse valor cai para R$ 8,5 mil, queda de 29%. ;Os seminovos e os usados não sofreram baixa de venda;, afirma Luiz Antônio Rodrigues, presidente da LAR Imóveis. As unidades novas, no entanto, têm preço de mercado estipulado pelo proprietário. ;E nos lançamentos, o comprador coloca o pé no freio e espera. Os clientes não estão tão desesperados para comprar;, observa. Ele acredita até mesmo em pequeno reajuste de preço dos imóveis usados até o fim do ano.
Vantagens na manutenção
Atraído por uma propaganda na televisão, o motorista Edvan Luiz da Silva comprou o seu primeiro carro na semana passada. Com medo de se endividar, ele optou por um modelo simples, mas zero-quilômetro. A escolha levou em consideração os vários benefícios que recebeu no momento da compra, além de uma possível economia com manutenções. ;Não quis pegar um carro sem saber a procedência e arriscar;, conta. O carro sairá da concessionária com rádio, tapete, trava, alarme, limpador e desembaçador traseiro. ;Dei uma entrada e negociei bastante o valor do financiamento em 48 vezes, para ter uma parcela que caberá no bolso;, conta.
Depois de ficar com o mesmo carro por 15 anos e gastar R$ 5 mil no primeiro conserto do veículo ; valor equivalente a 10 parcelas do financiamento que estava em vigor ;, o casal de funcionários públicos Bruno Nunes Barbosa Agostinho e Fabiana Rodrigues de Freitas Agostinho também comprou um carro zero. ;Chegamos a olhar um seminovo, mas acreditamos que o zero ainda está valendo a pena;, comenta Bruno. Para realizar o sonho, Bruno deu o carro antigo como entrada e fez um financiamento de 60 meses, com parcelas mais baixas.
As facilidades para quem opta pelo usado não são diferentes. Rubens Pos Alexandrino, proprietário da Fianza Automóveis, conta que para 50% dos veículos que tem em estoque está difícil encontrar compradores, mas que para reverter o quadro investe em produtos de qualidade e bom atendimento. Pressionado pelo juro zero oferecido pelas concessionárias de novos, Alexandrino também aposta na negociação com financeiras por taxas melhores. ;A saída tem sido se aproximar ao máximo das condições que um zero tem;, conta.
Rosvelt Curi, proprietário da Tutti Veículos, conta que o mercado de usados permanece ativo, mas que para vender é preciso acompanhar os preços do mercado. ;Usado a preço de zero não vende;, afirma. De acordo com ele, o problema enfrentado por muitos empresários, que já fecharam as portas desde a redução do IPI para novos, é o fato de a pessoa não querer perder margem e manter preços desatualizados. Para estimular o consumo dos seminovos e usados, além de espremer a margem ele conta que tem oferecido aos clientes taxas parecidas com as de veículos novos, que vão de 1,1% a 1,2%.
O professor de finanças da IBS/FGV Milcíades Morais acredita que os usados ainda são uma boa saída para o consumidor. ;Ao optar por um carro com pouca quilometragem e até três anos de uso ele poderá se beneficiar do fato de o primeiro dono ter pago pela depreciação, que chega a 30%, e ainda comprar um carro com IPVA pago e com acessórios;, comenta. (CM)