Economia

Necessidade de petróleo faz Equador desistir de plano ambiental

O "fator fundamental do fracasso é que o mundo é uma grande hipocrisia", disse o presidente Rafael Correa em mensagem à nação, na quinta-feira, ao se referir à falta de apoio à sua proposta para enfrentar as mudanças climáticas

Agência France-Presse
postado em 16/08/2013 18:00
QUITO - O Equador fracassou em seu audacioso plano internacional para evitar a exploração de petróleo na Reserva Yasuní, um parque em plena Amazônia, e deu sinal verde à exploração, pressionado pela queda das reservas de petróleo, apesar da contrariedade dos indígenas.

O "fator fundamental do fracasso é que o mundo é uma grande hipocrisia", disse o presidente Rafael Correa em mensagem à nação, na quinta-feira, ao se referir à falta de apoio à sua proposta para enfrentar as mudanças climáticas.

Correia determinou o arquivamento do projeto Yasuní-ITT que visava a evitar a exploração petroleira em uma área do Parque Yasuní, declarado pela Unesco reserva mundial da biosfera em 1989.



Apresentado em 2007 na ONU, o plano visava a evitar a emissão de 400 milhões de toneladas de gases causadores de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, em troca de uma compensação internacional de US$ 3,6 bilhões, uma quantia que devia ser arrecadada em 12 anos.

No entanto, nestes seis anos o país juntou contribuições de empresas, pessoas físicas e países que chegara, a US$ 13,3 milhões, ou 0,37% da meta. O dinheiro foi depositado em um fundo administrado por um programa das Nações Unidas. "Penso que a iniciativa se antecipou no tempo e as autoridades das mudanças climáticas ou não puderam ou não quiseram compreendê-la", justificou Correa.

Diante do apoio escasso, ele pediu ao Congresso, controlado pela situação, que declare de interesse nacional a exploração petroleira do bloco Ishpingo, Tambococha e Tiputini (ITT), etapa anterior à extração. Os três poços contêm 20% das reservas estimadas de petróleo do Equador (920 milhões de barris).

-- Reservas em baixa --

O anúncio, rechaçado por ambientalistas e indígenas, que exigem uma consulta popular sobre uma nova exploração petroleira na Yasuní, chegou em um momento em que o país assiste a uma queda dramática de seus depósitos de petróleo.

Menor sócio da Organização de Países Exportadores do Petróleo (Opep), o Equador conta com reservas para onze anos, disse à AFP José Luis Ziritt, consultor privado e ex-presidente da Associação da Indústria Hidrocarburífera do Equador.

O bloco "ITT é importante neste sentido porque lhe permitiria passar de 11 a 20 anos de margem de produção", acrescentou.

Segundo Rene Ortiz, ex-secretário-geral da Opep e ex-ministro de Minas e Energia, nos últimos sete anos o Equador "não tem conseguido adicionar um único novo barril de petróleo" à sua produção de 500.000 barris diários, apesar de contar com capacidade instalada de 850.000 barris por dia. "Essa necessidade de aumentar a produção seria facilitada com o desenvolvimento do ITT", afirmou à AFP.

Correa advertiu nos últimos meses que a economia equatoriana pode entrar em colapso em 2020, caso novas jazidas não sejam exploradas.

Após desistir de sua estratégia ambiental, o presidente prometeu gerar um impacto mínimo na Reserva Yasuní, onde já operam petroleiras há décadas. Um dos primeiros poços que serão explorados nos próximos meses pela estatal equatoriana Petroamazonas, o Tiputini, fica fora da área reservada. "O ITT representa o último pedaço do parque que queremos proteger da exploração petroleira", disse à AFP David Romo, co-diretor do centro de pesquisas da Universidade San Francisco.

Com um milhão de hectares, Yasuní é uma floresta tropical úmida, onde os cientistas afirmam que é possível apreciar a maior biodiversidade por quilômetro quadrado da Amazônia. Além disso, é refúgio de indígenas em isolamento voluntário.

Segundo estimativas privadas, 11 mil indígenas estão assentados no Yasuní, a maioria quéchuas. "É como se tivesse um bolo e me enganasse dizendo que não vou estragá-lo cortando só um pedaço (...). Um pedaço de floresta que se destrói implica uma altíssima destruição da biodiversidade: a quantidade de indivíduos por espécie vai cair drasticamente", afirmou Romo. "O dano imediato não ocorre só com um vazamento, mas com o desmatamento que é preciso fazer para se ter acesso às plataformas, construir oleodutos, abrir vias que permitem que as comunidades se realoquem e tenham acesso aos recursos naturais aos quais não tinham", acrescentou.

Governo e especialistas em petróleo garantem que os danos podem ser minimizados usando-se tecnologia de ponta. Mas a possibilidade de uma extração responsável também é um tema secundário para Pablo Jarrín, ex-diretor da Estação Científica Yasuní, da Universidade Católica Equatoriana. "É um fato que a indústria petroleira não é o fator inerente que causa a destruição ao meio ambiente, é a colonização que vem posteriormente, através das vias de acesso criadas por esta indústria", assegura.

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