Carolina Mansur
postado em 17/08/2013 18:51
Atrair a atenção do consumidor em um universo cheio de oportunidades de entretenimento virou tarefa difícil para a publicidade. Mas o fato é que o humor, antes tímido nas propagandas, se tornou uma ferramenta forte para dar mais visibilidade às empresas e, por consequência, alavancar as vendas. A grande novidade, porém, é o novo formato dessa linguagem com menos foco no produto e mais espaço para a diversão dos consumidores. Tanto que a presença de humoristas como Marcelo Adnet, Tatá Werneck e Fábio Porchat nos comerciais, seja na televisão ou na internet, é cada vez mais comum.Segundo especialistas, o mercado do humor para as grandes empresas estorou há aproximadamente um ano, quando o Porta dos Fundos, que se apresenta como um coletivo criativo que produz conteúdo audiovisual voltado para a web com liberdade editorial, se lançou na internet com um vídeo que criticava o atendimento prestado na rede de restaurantes Spoleto. A grande virada, no entanto, veio quando a empresa, em vez de repudiar a ação dos humoristas, topou a brincadeira e patrocinou dois novos vídeos, que se multiplicaram na internet e hoje reúnem mais de 12 milhões de acessos.
Um ano depois de cair nas graças do público, o canal do Porta dos Fundos no Youtube conta com 4,9 milhões de inscritos e outros milhares de visualizações. Entre os clientes da trupe, que reúne atores como Fábio Porchat, Gregório Duvivier e Marcos Veras, estão marcas como Dorflex, Fiat, Visa, Bis, G4 Solution e Samsung, que também se renderam ao humor para estreitar a comunicação com seus clientes (veja quadro). O resultado, sem dúvida, vem no alcance dos vídeos patrocinados. Alguns deles, como o ;Líder de Torcida;, da Fiat, chegam a registrar 7,9 milhões de visualizações.
O publicitário, humorista e professor da Miami Ad School/ESPM, José Luiz Martins, confirma o boom do humor nas propagandas, mas garante que a linguagem está longe de ser considerada ;moda;. ;Ele é muito presente e sempre foi forte desde as propagandas do garoto Bombril (que foi ao ar pela primeira vez em 1978);, lembra. Para ser bem visto pelo público, no entanto, o professor garante que é preciso ser criativo o suficiente para prender a atenção de uma geração que assiste TV, mas mexe no celular, acessa as redes sociais e ouve música ao mesmo tempo.
;Propaganda é como um xaveco. Não se conquista ninguém com autopromoção. Assim como o xaveco da vida real é preciso fazer piada, pagar a bebida, patrocinar um momento de diversão;, compara. No entanto, ele pondera que o humor não é indicado para todo tipo de mercadoria e que as características do produto devem ser consideradas pela empresa. ;Produtos que têm apelo de entretenimento, como telefonia, cerveja e carro são mais frequentes nesse tipo de campanha. Um banco, por exemplo, precisa passar imagem de seriedade;, diz.
No mercado desde 2011, a Mobly, loja virtual de móveis, decoração e acessórios para casa, se lançou no humor para fortalecer a marca no mercado e mostrar os benefícios da compra on-line. Na primeira ação de marketing viral, a empresa estreou o vídeo ;Sorria, você está sendo demitido;, com a atriz Tatá Werneck, criado pela s agências VML e Dois Moleques Produções, depois dele o ;Desilusão de ótica;. Em menos de um mês, cerca de meio milhão de acessos foram registrados.
De acordo com o diretor de Marketing da empresa, Cesário Martins, a escolha priorizou a internet por ser o ambiente onde a loja também está. No entanto, ele garante que por mais que a intenção seja divertir o consumidor, há conteúdo por trás do humor. ;Queremos mostrar e destacar a diferença de comprar em loja física e comprar em uma loja on-line. O objetivo dessa campanha é passar conteúdo, dar confiança para o consumidor.;
Na Visa, a diretora de Marketing Mariana Nadruz, garante que o humor vem ganhando as campanhas desde 2010. O histórico de propagandas divertidas, segundo ela, começou com o trio de bolero, seguido pelas campanhas do ;Posso te falar uma coisa?; e dos três vídeos feitos em parceria com o Porta dos Fundos sobre a Copa das Confederações. Para ela, escolher o humor é uma forma de ganhar espaço na vida das pessoas. ;Com tantas oportunidades de diversão como Facebook, Twitter, canais no Youtube, ficou cada vez mais difícil fazer só o básico;, comenta.