Economia

"Dilma é uma política disfarçada de gerente", diz especialista do Ipea

Em entrevista ao Correio, o economista Mansueto Almeida critica gestão de Dilma Rousseff e diz que não será possível evitar um forte ajuste nas contas públicas em 2015

Rosana Hessel
postado em 02/09/2013 06:01
O economista cearense Mansueto Almeida não poupa palavras ao criticar a gestão da presidente Dilma Rousseff. ;Ela se tornou uma política disfarçada de gerente;, define, ao afirmar que o governo errou no planejamento e superestimou a receita que teria para bancar investimentos. Ele não perdoa o fato de Dilma ter sido a gestora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e não ter dado início ao programa de concessões de infraestrutura logo no primeiro ano de governo.


A alta de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreendeu Almeida, que previa uma elevação de, no máximo, 1%, mas não o empolgou. ;Esse PIB não sinaliza que o país entrou numa rota de crescimento robusto. Ao contrário. É um ponto fora da curva;, afirma. O economista prevê queda no ritmo de crescimento no terceiro trimestre e aposta que a expansão acumulada no ano ficará em torno de 2%.

Técnico de Planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) e integrante da Diretoria de Estudos Setoriais e Inovação do órgão, Almeida é um dos principais especialistas do país na área fiscal. Ele destaca que, ao final de apenas quatro anos de mandato, Dilma terá promovido um aumento dos gastos públicos praticamente igual ao realizado pelos últimos três governos. A seu ver, falta na equipe da presidente um bom formulador de política econômica.



Na avaliação do especialista, diante do forte avanço nos gastos, não há como evitar um ajuste fiscal, que pode até levar o país a uma recessão. Como 2014 é um ano eleitoral, esse acerto ficaria para 2015, seja qual for o governo. A curto prazo, diz ele, o Banco Central é que fará o trabalho sujo, elevando a taxa básica de juros (Selic) até, no máximo 12%, para tentar segurar a inflação no teto da meta até o pleito. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Correio:

Como avalia o resultado do PIB do segundo trimestre, que ficou acima do esperado até mesmo pelo governo?
O resultado surpreendeu, mas o acumulado de quatro trimestres ainda é baixo, de 1,9%. O país saiu de um ritmo de expansão de 4% ao ano para 2% a 2,5%, no máximo. É muito baixo. Havia um bom ponto de partida. O mercado de trabalho ainda está aquecido. A parte ruim é que o gasto público no Brasil foi planejado com base em uma economia que deveria crescer 4%. Mas um país que avança metade disso não comporta os gastos que vem sendo feitos. Está ocorrendo um brutal aumento da despesa, e o governo fica sem espaço para elevar o investimento público e reduzir a carga tributária.

Mas não é positivo ver que o país cresceu mais que outras economias desenvolvidas?
Não acho bom fazer comparações com Coreia do Sul e Estados Unidos, por exemplo. Os EUA têm PIB per capita de US$ 49,8 mil. Para um país rico, ter uma taxa baixa de expansão é normal. Para a economia americana, 2,5% é um senhor crescimento. Para o Brasil, não. Temos uma renda per capita pouco acima de US$ 10 mil. O Brasil não pode se dar ao luxo de crescer tão pouco.

Pode-se dizer que é um ;pibão; que não empolga?
Mais ou menos isso. Parece um ponto fora da curva do que uma tendência. E esse é o problema. O PIB do segundo trimestre não refletiu a recente valorização do dólar. No terceiro trimestre, haverá queda. Esse PIB não sinaliza uma rota de crescimento robusto, ao contrário. Ninguém vai aumentar a projeção de que o país vai crescer 3% ao ano por causa desse resultado.

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