Agência France-Presse
postado em 02/09/2013 17:45
SEVILHA - Enquanto alguns aproveitam ao máximo as férias, cerca de 20 alunos recebem orgulhosos seus diplomas em uma escola de Sevilha, uma das dezenas de instituições de ensino que estão abertas na Espanha neste verão para garantir que as crianças comam bem, apesar da crise econômica.
Sentados em uma sala de aula decorada com azulejos, meninos e meninas de 6 a 14 anos esperam impacientes que Blanca García-Tapial, a alma desse projeto na comunidade sevilhana de Torreblanca, diga seu nome e lhes entregue a recompensa de dois meses de trabalho.
"Em setembro, vou entrar no ensino médio, e isso me ajudou muito, sobretudo, no idioma. Melhorei um pouco com os verbos", afirma José Manuel, de 12 anos, vestido com a camiseta de uma equipe de futebol local.
"Aprendi a dividir, o que antes eu não sabia", disse Yessina, uma menina de 8 anos, de longos cabelos loiros.
Com jogos e corridas, eles acabam de celebrar sua particular "festa de fim de curso" na última semana de agosto, quando a maioria dos estudantes já se prepara para retomar as aulas.
Depois da entrega dos diplomas, a garotada tira a maquiagem e as máscaras e se prepara para a atividade central: o almoço. No cardápio, há gaspacho, peixe, pão e pudim.
"Algumas famílias nos contaram que têm real necessidade de que seus filhos fiquem aqui para comer", conta García-Tapial, acrescentando que "a grande maioria, porém, não tem problemas de fome, mas de má nutrição".
Em torno de uma grande mesa, todos comem com bastante vontade e, quando uma das professoras pergunta quem quer repetir, várias mãos são levantadas. "A comida que sobra costuma ser distribuída entre os pais", explica Blanca.
Margarita Barco, de 45 anos, busca o filho José Alberto e aproveita para levar gaspacho para a família. "Em casa, estamos todos parados, a coisa está muito ruim, e essa ajuda faz falta", afirma essa mãe de três meninos de 8, 18 e 20 anos.
Seu marido, segurança em um hotel, ficou desempregado em 2009 e hoje eles vivem com uma ajuda de 426 euros por mês.
"Eu me aguento com um pedaço de pão, mas os meninos precisam comer carne, peixe, precisam ter sua comida", acrescenta.
Em crise há cinco anos, a Espanha registra uma taxa recorde de desemprego de 26,26% que, somada às draconianas políticas de austeridade do governo conservador de Mariano Rajoy, disparou o alerta sobre a situação de muitos menores.
"O percentual de pobreza infantil na Espanha já era alto de forma estrutural. Em 2008, já estava em torno de 20%", declara Marta Arias, responsável pelas Políticas da Infância no Fundo das Nações Unidas para a Infância Espanha (Unicef).
"Com a crise, os números estão se agravando ano a ano, e não apenas temos mais crianças abaixo da linha de pobreza, como elas também estão mais pobres", relata, garantindo que, em 2011, quase 2,3 milhões de menores espanhóis (27,2%) viviam em lares com poucos recursos.
Com 35,8% de desemprego, a região da Andaluzia, no sul, é uma das mais afetadas. "Tanto os colégios como os profissionais de pediatria estão nos dizendo que há graves problemas de má nutrição", declara a diretora de Serviços Sociais do Executivo andaluz (de esquerda), Magdalena Sánchez.
Em junho, um programa foi iniciado no qual os colégios distribuem gratuitamente café da manhã, almoço e merenda a cerca de 11 mil crianças carentes.
Com a chegada das férias, "era fundamental que não houvesse um corte", explica. Por isso, foram abertas 56 escolas de verão, para quatro mil crianças, destinadas a "garantir a alimentação, que era nosso objetivo fundamental", completa a diretora.
Outros governos regionais e municipais tomaram medidas similares. Nas Canárias e na Estremadura espanhola, ambas com 33,7% de desemprego, mais de 100 centros foram abertos neste verão para receber cerca de 10 mil alunos em dificuldades. Na Catalunha e em Valência, alguns municípios aderiram.
Quase no final das férias, muitas famílias enfrentam ainda um outro problema: a compra de livros e material escolar para a volta às aulas.
Em Sevilha, um grupo de "Robin Hoods" modernos resolveu dar uma "ajudinha" na última sexta-feira. Mais de 200 militantes do Sindicato Andaluz dos Trabalhadores (de esquerda) invadiram um grande supermercado e levaram cadernos e canetas. Eles afirmaram que vão distrubuir o fruto do saque para famílias necessitadas.
Sentados em uma sala de aula decorada com azulejos, meninos e meninas de 6 a 14 anos esperam impacientes que Blanca García-Tapial, a alma desse projeto na comunidade sevilhana de Torreblanca, diga seu nome e lhes entregue a recompensa de dois meses de trabalho.
"Em setembro, vou entrar no ensino médio, e isso me ajudou muito, sobretudo, no idioma. Melhorei um pouco com os verbos", afirma José Manuel, de 12 anos, vestido com a camiseta de uma equipe de futebol local.
"Aprendi a dividir, o que antes eu não sabia", disse Yessina, uma menina de 8 anos, de longos cabelos loiros.
Com jogos e corridas, eles acabam de celebrar sua particular "festa de fim de curso" na última semana de agosto, quando a maioria dos estudantes já se prepara para retomar as aulas.
Depois da entrega dos diplomas, a garotada tira a maquiagem e as máscaras e se prepara para a atividade central: o almoço. No cardápio, há gaspacho, peixe, pão e pudim.
"Algumas famílias nos contaram que têm real necessidade de que seus filhos fiquem aqui para comer", conta García-Tapial, acrescentando que "a grande maioria, porém, não tem problemas de fome, mas de má nutrição".
Em torno de uma grande mesa, todos comem com bastante vontade e, quando uma das professoras pergunta quem quer repetir, várias mãos são levantadas. "A comida que sobra costuma ser distribuída entre os pais", explica Blanca.
Margarita Barco, de 45 anos, busca o filho José Alberto e aproveita para levar gaspacho para a família. "Em casa, estamos todos parados, a coisa está muito ruim, e essa ajuda faz falta", afirma essa mãe de três meninos de 8, 18 e 20 anos.
Seu marido, segurança em um hotel, ficou desempregado em 2009 e hoje eles vivem com uma ajuda de 426 euros por mês.
"Eu me aguento com um pedaço de pão, mas os meninos precisam comer carne, peixe, precisam ter sua comida", acrescenta.
Em crise há cinco anos, a Espanha registra uma taxa recorde de desemprego de 26,26% que, somada às draconianas políticas de austeridade do governo conservador de Mariano Rajoy, disparou o alerta sobre a situação de muitos menores.
"O percentual de pobreza infantil na Espanha já era alto de forma estrutural. Em 2008, já estava em torno de 20%", declara Marta Arias, responsável pelas Políticas da Infância no Fundo das Nações Unidas para a Infância Espanha (Unicef).
"Com a crise, os números estão se agravando ano a ano, e não apenas temos mais crianças abaixo da linha de pobreza, como elas também estão mais pobres", relata, garantindo que, em 2011, quase 2,3 milhões de menores espanhóis (27,2%) viviam em lares com poucos recursos.
Com 35,8% de desemprego, a região da Andaluzia, no sul, é uma das mais afetadas. "Tanto os colégios como os profissionais de pediatria estão nos dizendo que há graves problemas de má nutrição", declara a diretora de Serviços Sociais do Executivo andaluz (de esquerda), Magdalena Sánchez.
Em junho, um programa foi iniciado no qual os colégios distribuem gratuitamente café da manhã, almoço e merenda a cerca de 11 mil crianças carentes.
Com a chegada das férias, "era fundamental que não houvesse um corte", explica. Por isso, foram abertas 56 escolas de verão, para quatro mil crianças, destinadas a "garantir a alimentação, que era nosso objetivo fundamental", completa a diretora.
Outros governos regionais e municipais tomaram medidas similares. Nas Canárias e na Estremadura espanhola, ambas com 33,7% de desemprego, mais de 100 centros foram abertos neste verão para receber cerca de 10 mil alunos em dificuldades. Na Catalunha e em Valência, alguns municípios aderiram.
Quase no final das férias, muitas famílias enfrentam ainda um outro problema: a compra de livros e material escolar para a volta às aulas.
Em Sevilha, um grupo de "Robin Hoods" modernos resolveu dar uma "ajudinha" na última sexta-feira. Mais de 200 militantes do Sindicato Andaluz dos Trabalhadores (de esquerda) invadiram um grande supermercado e levaram cadernos e canetas. Eles afirmaram que vão distrubuir o fruto do saque para famílias necessitadas.