Jornal Correio Braziliense

Economia

Cinco anos após a crise, Brasil paga caro por não fazer dever de casa

Estragos provocados pela quebra do Lehman Brtohers, em setembro de 2008, estão longe do fim



O quadro que se vê no Brasil é desalentador, admite Roberto Fendt, diretor executivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Em vez de cortar juros para estimular o crescimento, o país está sendo obrigado a elevar o custo do dinheiro para que a inflação, que se mantém insistentemente próxima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%, não saia do controle.

Ao contrário de dar um sinal claro aos investidores de que o ajuste fiscal é para valer, o Palácio do Planalto encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta de Orçamento de 2014 na qual reduz a economia para pagamento de juros da dívida (superavit primário) a 2,1% do PIB. A gastança nos últimos anos foi tamanha, que já não há mais espaço para estímulos à atividade, em especial aos investimentos produtivos.

Não por outra razão, o Brasil passou a liderar a onda de desconfiança que inundou os países emergentes desde maio, quando o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, indicou que estava se preparando para reduzir os estímulos que vinha dando à maior economia do planeta. Com os juros norte-americanos apontando para cima, os investidores optaram por selecionar os países nos quais manteriam suas aplicações.

De prioridade, o Brasil passou a ser visto com ressalvas. Os problemas estruturais da economia, com a infraestrutura precária, o intervencionismo estatal, a leniência com a inflação e truques fiscais, deixaram de ser relevados. A cobrança veio por meio de uma forte saída de recursos do país e da disparada de quase 20% do dólar ante o real.

Blindagem falha
Na avaliação dos especialistas, mais do que olhar para trás, para os cinco anos pós-Lehman, o que assusta é a falta de transparência do que será a política econômica em um eventual segundo mandato de Dilma. ;Infelizmente, o Brasil nunca teve o costume de fazer o dever de casa;, afirma Creomar Lima e Souza, professor de relações internacional da Universidade Católica de Brasília. E poucos acreditam que as tarefas que poderiam blindar o país neste momento serão executadas com êxito. ;Os tempos são de incerteza para o Brasil, quando todos deveriam estar comemorando a recuperação da economia mundial, em especial a dos Estados Unidos;, acrescenta Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getulio Vargas.

Ninguém espera, contudo, a ruína dos países emergentes, em especial de Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África Sul, cujas moedas estão derretendo, por causa da fragilidade crescente nas contas externas e da alta do endividamento interno. ;Teremos pelo mais dois anos de dificuldades, até que se saiba ao certo como será a condução da política monetária norte-americana;, destaca Lozardo. Muitos acreditam que o desmonte dos estímulos dados pelo Fed será complexo, pois não se sabe para onde vão os juros norte-americanos.

Antônio Corrêa de Lacerda, professor de economia política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz não ter dúvidas de que o Brasil apresentou uma das melhores respostas de países emergentes ao terremoto financeiro oriundo dos EUA. ;O uso de bancos públicos para compensar as dificuldades de crédito e estimular a demanda interna foram positivas e impediram a economia de levar um tombo igual ao de Rússia e México ;, explica.

De toda forma, ele acredita que, desde 2009, estava claro para o governo que o modelo de desenvolvimento não poderia mais se ancorar no consumo das famílias, cujo comprometimento da renda com dívidas saltou de 32%, em setembro de 2007, para 45%, em junho deste ano. ;As ferramentas usadas para superar a crise no auge dela não servem mais agora;, resume.