Economia

Cinco anos depois do Lehman, a longa recuperação dos Estados Unidos

No dia 15 de setembro de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, a economia americana vinha sofrendo havia vários meses com os créditos imobiliários de alto risco, conhecidos depois como 'subprimes'

Agência France-Presse
postado em 12/09/2013 17:19
Cinco anos se passaram, mas não há motivos para festejar. Após a quebra do banco Lehman Brothers, os Estados Unidos superaram uma recessão histórica ao preço de níveis de dívida recordes e de uma forte intervenção do Estado na economia.

"Não estamos em uma situação fantástica, mas a economia, pelo menos, se estabilizou", disse à AFP Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-economista-chefe do FMI.

No dia 15 de setembro de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, a economia americana vinha sofrendo havia vários meses com os créditos imobiliários de alto risco, conhecidos depois como ;subprimes;.

Mas a queda do gigante bancário, ícone de Wall Street durante mais de um século, desencadeou uma profunda crise financeira que se propagou para o restante do mundo.

O Estado federal abriu os cofres e disponibilizou rapidamente 420 bilhões de dólares para reforçar os caixas dos bancos, como o Bank of America ou o Citigroup, entre outros, assim como os de montadoras, como a General Motors e a Chrysler, grandes geradores de emprego. Mas o governo não conseguiu conter uma queda livre da economia.

Entre setembro de 2008 e setembro de 2009, a taxa de desemprego subiu de 6,1 para 9,8%. A atividade econômica desabou, em particular no último trimestre de 2008. Ao mesmo tempo, o déficit fiscal cresceu devido aos planos de resgate, passando de 3,2% para 10,1% do PIB entre 2008 e 2009.

"Era um período de grandes riscos. Uma nova Grande Depressão se desenhava", lembrou Rogoff, referindo-se à crise de 1929.

Cinco anos depois, o fantasma de uma Grande Depressão foi esquecido. Mas a economia tem dificuldades para recuperar sua força.


O papel do Estado

"A capacidade das autoridades americanas de adotar uma abordagem forte para resolver a crise foi decisiva", explicou à AFP Nicolás Verón, pesquisador do Peterson Institute de Washington.

Para acalmar os mercados, os gigantes bancários foram submetidos desde 2009 a um teste de resistência. Votada em 2010, a lei Dodd-Frank de regulação de Wall Street instituiu o mecanismo por norma.

No entanto, embora esse projeto de 2.300 páginas para reformar Wall Street tenha sido adotado em julho de 2010 pelo Congresso, sua total entrada em vigor ainda não foi concluída, a espera dos decretos legislativos de regulamentação.

O governo de Barack Obama teve que aprofundar a intervenção do Estado em seu primeiro ano de governo, e em fevereiro de 2009, pouco depois de assumir, lançou um plano de reativação de 787 bilhões de dólares destinado a fomentar o consumo e o vital setor imobiliário.

A venda de residências melhorou, mesmo que os preços ainda estejam distantes do patamar anterior à crise, quando subiam em ritmo acelerado. Mas o consumo, tradicional motor do crescimento nos Estados Unidos, perdeu força, e o patrimônio dos americanos sofreu perdas "espetaculares", segundo um alto funcionário do Tesouro.

Com a crise, "os consumidores foram lembrados de suas aposentadorias e não podem carregar nos ombros o peso de uma recuperação agora, porque precisam economizar", disse à AFP Joseph Gagnon, membro do Tesouro durante o governo de Bill Clinton (1993-2001).

O desemprego, a 7,3%, segue elevado, e a proporção de pessoas que deixaram de buscar trabalho está em seu índice máximo em mais de 35 anos.

Para o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, a política dos Estados Unidos depois do Lehman foi um "terrível fracasso" e pede "um grande impulso" ao emprego.

Em cinco anos, a dívida pública do país disparou mais de 65%, a cerca de 16 bilhões de dólares, e é fonte permanente de disputas políticas entre o Congresso e a Casa Branca.

O Federal Reserve continua injetando dinheiro na economia por meio de compras de bônus por 85 bilhões de dólares por mês e mantém taxas muito baixas.

"O retorno à normalidade só poderá se considerado como tal quando tivermos saído das medidas excepcionais do Fed", destacou Veron.

O Fed se reúne na próxima semana e alguns analistas esperam que anuncie um corte em suas medidas de estímulo.

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