Economia

Boa remuneração e bom ambiente profissional dão satisfação nas empresas

Para 78% dos 207 entrevistados no levantamento Felicidade no Trabalho, feito pelo Ateliê de Pesquisa Organizacional, o dinheiro é o fator mais importante na vida profissional

postado em 23/09/2013 08:19
Será que é possível ser feliz no trabalho? Ou o escritório é apenas aquele lugar para onde se vai com o objetivo de ganhar dinheiro para pagar as contas no fim do mês? Para 78% dos 207 entrevistados no levantamento Felicidade no Trabalho, feito pelo Ateliê de Pesquisa Organizacional, o dinheiro é o fator mais importante na vida profissional. Especialistas alertam, porém, que ele está longe de ser o único elemento a influenciar o grau de satisfação dos funcionários. O estudo, que ouviu trabalhadores do Rio de Janeiro e de São Paulo, mostrou que as pessoas também relacionam a felicidade a se sentir bem trabalhando em um ambiente colaborativo, em que elas possam falar e ser ouvidas.

Suzy Cortoni, sócia-diretora do Ateliê de Pesquisa, afirma que o dinheiro foi o aspecto que menos surpreendeu no levantamento. ;Hoje, ninguém tem mais vergonha de dizer: ;eu trabalho por dinheiro; ou ;eu não estou satisfeito com o que eu ganho;. Isso não era bem aceito antes;, explica. O que mais chamou a atenção foi o resultado tão positivo de felicidade: 79% das pessoas disseram ser felizes no trabalho. O grande desafio das empresas agora, segundo Suzy, será descobrir o que fazer para trazer satisfação aos outros 21% que se dizem infelizes.

O diretor de logística Enezil Egídio: mesmo para os executivos o dinheiro não é o fator primordial
Para a arquiteta Ludmila Pedrosa, 27 anos, o salário não foi o que mais contou para a satisfação com a carreira. Ela começou a trabalhar em um escritório voltado para a área de urbanismo. Em pouco tempo, chegou à conclusão de que não era isso o que queria fazer. ;Eles pagavam bem, o que me fez ficar mais tempo, até que resolvi sair mesmo assim;, explica. Hoje, atua em um escritório na área de que realmente gosta: interiores e residência. Além da afinidade com o ofício, fatores como autonomia, poder de decisão e retorno dos líderes são essenciais para garantir a felicidade, segundo ela.

Responsabilidade compartilhada

O coach Vinícius Farias Franco, coordenador de Marketing do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), defende que a responsabilidade da satisfação e do engajamento no trabalho seja compartilhada entre empresa e o profissional. É necessário levar em consideração o perfil comportamental de cada trabalhador antes de delegar tarefas. ;Existem quatro perfis principais, o executor, o comunicador, o planejador e o analista. É preciso dar ao colaborar um trabalho pertinente a essas características;, explica. O especialista alerta, no entanto, que todos têm os quatro perfis, mas alguns predominam dependendo do meio onde profissional está e da atividade que exerce.



A preocupação da empresa com a felicidade do funcionário também pode ter reflexos na saúde dele. O professor Mário César Ferreira, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), ressalta a importância de as organizações atuarem preventivamente para evitar que a falta de satisfação dos funcionários gere doenças, uma vez que os estudos mostram que a maior parte das causas de infelicidade no trabalho são de origem organizacional. ;Ser produtivo é um dos modos de exercício da felicidade. Produtividade que leva a adoecimento não interessa a ninguém. Não adianta o funcionário entregar o trabalho no prazo e no dia seguinte entrar de licença;, alerta. A estilista Anna Paula Osório, 42 anos, percebeu grande melhora na produtividade depois que decidiu mudar de carreira. Formada em ciência da computação, ela se sentia limitada diante do computador. ;Quando você é estilista, não tem um limite. A criatividade ultrapassa isso. Eu consigo produzir muito mais do que como analista de sistemas;, relata.

De acordo com o professor Mário César, que é especialista em qualidade de vida no trabalho, fatores como a possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional, o ambiente de trabalho saudável, uma gestão humanizada, o sentimento de prazer e a percepção do trabalho como tempo valioso de vida influenciam o bem-estar e a felicidade do profissional.

Dinheiro não é tudo

Pesquisa feita pela consultoria de recrutamento especializado Robert Walters mostrou que 49% dos executivos de alta e média gerência sinalizam que a falta de plano de carreira é o principal motivo para mudar de emprego. Foram ouvidos cerca de 10 mil profissionais de 10 países, incluindo o Brasil, onde o índice aferido foi ainda maior: 52%. A decepção com a revisão salarial foi mencionada por apenas 8% dos executivos.

O sócio-diretor da Fesa, consultoria especializada em recrutamento de altos executivos, Fernando Guedes, confirma que os executivos não olham apenas o pacote de remuneração na hora de aceitar uma proposta de outra empresa, já que têm uma posição patrimonial consolidada. ;O que pesa são os desafios, ciclos de carreira, possibilidade de crescimento, novos projetos e também o alinhamento dele em relação à estratégia e à cultura da empresa;, enumera. Ele destaca que o executivo dificilmente vai se movimentar por uma remuneração menor, mas que, com certeza, levará em consideração o contexto organizacional.

;Para mim, o mais importante é trabalhar com pessoas, é isso o que me motiva todos os dias;, relata o diretor de logística da Brasal Enezil Egídio da Costa, 45 anos. Sempre que pode, ele cumprimenta, um a um, os 850 colaboradores que supervisiona. Essa forma de gerir, dando autonomia na tomada de decisões, reflete-se também no desempenho de todos. Enezil trabalha na empresa há 15 anos e, quando assumiu a área de logística, a primeira coisa que fez foi criar o índice de felicidade do setor. ;Uma coisa que é muito clara é que um colaborador feliz é muito mais produtivo do que um infeliz. Eu posso ter inclusive mais custos se o colaborador não estiver motivado.;

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