Economia

BCE examinará exaustivamente quase 130 bancos europeus

Apesar de a situação ter melhorado notavelmente nos dois últimos anos a saúde dos bancos continua gerando dúvidas

Agência France-Presse
postado em 23/10/2013 18:05
Frankfurt am main - O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quarta-feira (23/10) os critérios de avaliação dos bancos da zona do euro, uma etapa considerada crucial para sua credibilidade e para a total recuperação do sistema financeiro da região.

"É um passo importante para a Europa e o futuro da economia da zona do euro", disse seu presidente, Mario Draghi, em um comunicado.

Este exame, batizado como Asset Quality Review (AQR), que será realizado antes de o BCE assumir o papel de supervisor bancário único (SSM) a partir de novembro de 2014, pretende garantir a transparência dos bancos, "reparar" o que for necessário em seus balanços e recuperar totalmente a confiança dos investidores privados, disse o BCE.

Apesar de a situação ter melhorado notavelmente nos dois últimos anos, graças à intervenção decidida do BCE e as reformas empreendidas pelos Estados membros, a saúde dos bancos continua gerando dúvidas, lembrou Ignazio Angeloni, diretor geral para a Estabilidade Financeira, em uma coletiva de imprensa.

Os recentes acontecimentos do espanhol Bankia ou do italiano BMPS contribuíram para manter as dúvidas e o receio sobre a capacidade das autoridades supervisoras nacionais para avaliar seus bancos de forma imparcial e eficaz.

O BCE realizará este exame, contudo, em cooperação com as autoridades de supervisão nacional e com o apoio de um gabinete de conselho externo, Oliver Wyman. O trabalho será iniciado em novembro com a definição da carteira que será examinada em cada país apesar do exame em si começar no início do próximo ano.

O BCE, que exige a cada um dos bancos um ratio de fundos próprios de 8%, examinará os riscos das contas dos 124 bancos afetados assim como de quatro filiais, em particular no que diz respeito à liquidez, endividamento e financiamento.

Além disso, o BCE revistará os ativos dos bancos com data de 31 de dezembro. Este exame será "vasto e complexo" e se centrará nos ativos de maior risco e nos menos transparentes.

Um teste de resistência, realizado conjuntamente com a Autoridade Bancária Europeia (EBA), completará o exame dos ativos dos bancos e dará uma ideia de sua capacidade para absorver choques em condições de tensão ou inclusive de crise. Os detalhes do teste de resistência ou "stress test" serão apresentados posteriormente, pois a discussão continua, segundo Angeloni.



Muito ruído

Com esses exames, o primeiro objetivo do projeto da União Europeia "é pôr sobre os trilhos definitivamente" o sistema financeiro, comentou Christian Schulz, economista do Banco Berenberg.

"O sucesso deste exercício completaria a cura após as crises do Lehman (Brothers) e da zona do euro", acrescentou, preocupado, contudo, pela duração do processo. Os resultados dos diferentes exames não serão conhecidos antes de outubro de 2014, dentro de um ano.

Apesar de o AQR estar destinado a relançar o crédito e, portanto, os investimentos para incentivar o crescimento frágil, "os bancos poderiam permanecer afastados de todo o negócio de risco para dar boa imagem ao supervisor", alerta.

"O AQR criou muita expectativa sobre o retorno do crédito, mas não se pode descartar que os bancos mantenham a prudência", disse outro analista que pediu anonimato.

Além disso, esta longa espera até conhecer os resultados poderia "ser uma máquina de rumores", com vazamentos de resultados e dúvidas, apesar de reconhecer que o BCE não tem escolha.

Um exercício desta envergadura não se improvisa, sobretudo, porque ainda tem que contratar uma parte do pessoal e o responsável do SSM.

Além disso, uma vez feito o diagnóstico, as ferramentas para recapitalizar os bancos terão que estar prontas, mas as negociações não terminaram.

A Comissão Europeia prefere envolver os acionistas e os credores privados antes de recorrer ao dinheiro público primeiro no nível nacional e depois no europeu.

Draghi, em uma carta dirigida à Comissão este verão (no hemisfério norte), que foi divulgada recentemente, se disse preocupado por uma eventual desestabilização dos mercados financeiros em caso de uma "interpretação muito estrita" deste princípio, por isso, considera que "os Estados deveriam poder recapitalizar os bancos a título preventivo".

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