postado em 06/11/2013 12:07
A chamada nova classe média brasileira, estrato social de famílias com faixa de renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 que na última década entrou no mercado consumidor de bens duráveis, não é efeito de uma política de redistribuição de renda e de queda da desigualdade socioeconômica no Brasil. ;Há um abuso do conceito de classe média;, assinala o sociólogo Pedro Demo, autor de mais de 40 livros sobre pobreza, política social e educação. Para o pesquisador Fernando Gaiger, especialista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em pobreza e consumo, a expressão ;nova classe média; é ;laudatória; [elogiosa] de uma configuração social onde o pobre consome mais, graças as facilidades de crédito, mas mantém-se ainda muito longe dos ricos. ;Isso não significa que o mercado [consumidor] desconcentrou. A distância entre o celular que eles [os pobres] têm e o celular que os ricos têm permanece;, disse ao reconhecer que antes a distância era marcada por ;ter ou não ter; bens como celular, computador e televisão de tela plana.
Pesquisa divulgada na semana passada pelos institutos Data Popular e Data Favela verificou que a proporção de lares nas comunidades pobres das regiões metropolitanas com alguns bens duráveis de consumo é maior que na média nacional. O aparelho de televisão de tela plana, por exemplo, está em 46% dos lares das favelas, enquanto o número é de 35% no Brasil como um todo. A máquina de lavar está presente em 69% dos lares em favelas e 49% no país. O mesmo ocorre com o micro-ondas: 55% nos domicílios de favela e 35% no total de residências do país.
Segundo os dois institutos, 41% dos moradores dessas comunidades têm conta bancária; 37% têm caderneta de poupança; 35% têm cartão de crédito; e 53% têm poupança ou conta-corrente. O Data Popular e o Data Favela diagnosticaram, ainda, que 18% desses moradores já usaram a internet para acessar o banco e 52% dizem estar conectados na internet. Entre os jovens de 16 a 29 anos, essa taxa chega a 78%, maior do que a média geral nacional e equivalente à proporção entre a mesma faixa etária no resto do país.
Na opinião de Ângela Guimarães, vice-presidente do Conselho Nacional de Juventude, o maior acesso ao mercado consumidor não reverteu as condições de vida e de moradia de grande parte da população, inclusive dos jovens que residem em lugares onde há ;pouco ou quase nenhum equipamento público;. Segundo ela, apesar da ascensão, a nova classe média permanece com dificuldades para ter oferta de educação de boa qualidade e qualificação profissional, segurança pública, mobilidade urbana e acesso à cultura.
Para Ângela Guimarães, a inexistência de equipamentos públicos ;congela [os moradores de periferia] em um circuito básico;. Nesses espaços urbanos, a atuação do Estado acaba por reproduzir a desigualdade. ;A tradição é de oferecer coisa pobre para pobre;, acrescentou Pedro Demo. Se ocorre melhoria, acontece um ;processo de expulsão dos pobres;, que vendem imóvel recentemente valorizado, comentou Fernando Gaiger ao assinalar que no Brasil ainda ;falta democratizar o espaço urbano;.