Agência France-Presse
postado em 22/11/2013 18:53
Os investidores estrangeiros já não têm medo da Espanha: um ano depois de ter sido apontada como um "mau aluno" da zona do euro, voltam a apostar nela, contando especialmente com a grande presença de suas empresas na América Latina.Um deles, em particular, ganhou destaque, quando no final de outubro, o cofundador da Microsoft, Bill Gates, entrou no capital do grupo construtor e de serviços FCC, ao comprar 5,7% por 108,5 milhões de euros. Foi o suficiente para disparar as ações da companhia e provocar o entusiasmo da imprensa local.
"O investimento estrangeiro está voltando à Espanha" já que esses investidores "antecipam a recuperação da economia espanhola", afirmou nesta sexta-feira o secretário de Estado de Comércio, Jaime García Legaz, durante a apresentação de um estudo sobre fundos soberanos, realizado pela escola de comércio Esade.
"É evidente que a percepção sobre a Espanha mudou, continua melhorando semana após semana e é uma boa notícia para todos", acrescentou, anunciando que o país "vai terminar este ano com um superávit da balança de conta corrente de 2% do PIB", longe dos 10% do déficit que registrava no pior momento da crise.
[SAIBAMAIS]Entre janeiro e agosto, a quarta economia da zona do euro recebeu cerca de 19 bilhões de euros em investimentos estrangeiros diretos, duas vezes mais que no mesmo período do ano passado.
Uma boa notícia para o país, que acaba de sair de dois anos de recessão, enquanto reduziu seu déficit público e aumentou sua competitividade, apesar de a taxa de desemprego continuar sendo elevada (25,89%).
"O mercado espanhol volta a ser atrativo", explicava recentemente o embaixador da França na Espanha, Jérôme Bonnafont, afirmando ver uma mudança.
"Há uma clara recuperação das petições espontâneas de empresas francesas sobre a Espanha", destacava então, Richard Gomes, diretor local da Ubifrance, organismo encarregado de assessorá-las em sua internacionalização.
Da mesma forma, "os fundos soberanos apostam nas empresas espanholas que têm uma forte presença na América Latina", afirma o estudo apresentado nesta sexta-feira.
Entre as operações mais emblemáticas estão a entrada do fundo de Cingapura Temasek na petroleira Repsol ou a aquisição pelos fundos de Abu Dhabi IPIC de outro grupo do setor, Cepsa.
María Victoria Zingani, diretora financeira da Repsol, lembra que o fundo Temasek tinha abordado o grupo no verão (do hemisfério norte) de 2012, durante uma turnê da Repsol por investidores do sudeste asiático, antes de voltar a contatar a petroleira em dezembro, para negociar uma participação.
Atualmente, o fundo, que já visitou as instalações da Repsol no Brasil e na Bolívia, possui 6,23% do grupo.
Os fundos soberanos "buscam empresas muito diversificadas com um crescimento a longo prazo e na América Latina", considera Zingani.
"É um fenômeno que aumenta e continuará aumentando", afirma Javier Santiso, professor da Esade. O estudo identificou 82 fundos soberanos no mundo, com ativos de um valor superior aos 5,5 bilhões de dólares.
Após ter visado primeiro aos setores de infraestrutura e energia, esses fundos "visam cada vez mais ao setor das novas tecnologias", afirma, e mais timidamente, o imobiliário.
"Embora em 2011 os fundos árabes foram os grandes protagonistas das entradas em empresas espanholas, em particular Qatar Holdings, no período mais recente os asiáticos se destacaram", informa o estudo, sobretudo, os de Cingapura e os da China.
A Qatar Holdings se destacou ao assumir participações de mais de 6% no banco Santander e no gigante energético Iberdrola, investindo em cada uma dessas operações mais de 2 bilhões de dólares e apostando na forte presença no Brasil desses dois grupos. Atualmente é o primeiro acionista da Iberdrola com 8,18% do capital.
"Os fundos soberanos anteciparam a volta dos investimentos estrangeiros" ao apostar na Espanha desde 2011, afirma Antonio Hernández, da consultoria KPMG, e devem continuar fazendo isso em 2013, ano para o qual "as perspectivas são positivas".