Economia

Tentativa de acordo na OMC antes de reunião de Bali é fracassa

A conferência de Bali é considerada por muitos observadores como a última oportunidade para reativar as negociações sobre a liberalização do comércio mundial, emoldurada na Rodada de Doha

Agência France-Presse
postado em 26/11/2013 16:55
Roberto Azevêdo disse que a reunião em Bali será realizada sem pontos de convergência previamente definidosGenebra - Os negociadores da Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassaram na busca de consenso para um acordo na conferência ministerial da próxima semana em Bali, considerada a última oportunidade de reativar a Rodada Doha, admitiu nesta terça-feira (26/11) o diretor geral da entidade, Roberto Azevêdo. "A realidade é que nos mostramos incapazes de cruzar a reta final aqui em Genebra. O processo aqui terminou", disse Azevêdo em uma entrevista coletiva.

O brasileiro, que assumiu o posto de diretor geral da OMC em setembro, disse que a reunião na ilha indonésia será realizada sem pontos de convergência previamente definidos. Azevêdo negociava intensamente desde o início de outubro com os embaixadores em Genebra, sede do organismo, para obter um pré-acordo que seria adotado em Bali, de 3 a 6 de dezembro, pelos ministros do Comércio dos 159 países membros.

Se os Estados membros querem chegar a um acordo em Bali, "será necessário uma vontade política, a um nível mais elevado que o de embaixadores", explicou Azevêdo. Os Estados Unidos, por meio de seu embaixador na OMC, Michael Punke, se declarou "muito triste" com a situação. "Estamos preocupados, como muitos outros (na OMC), porque escapou de nossas mãos uma oportunidade que só acontece uma vez por geração", disse.

A conferência de Bali é considerada por muitos observadores como a última oportunidade para reativar as negociações sobre a liberalização do comércio mundial, emoldurada na Rodada de Doha, iniciada em 2001 e que continua em ponto morto. O objetivo da rodada Doha é conseguir um acordo global para abrir mercados e acabar com barreiras tarifárias, para estimular o comércio planetário e ajudar ao desenvolvimento dos países economicamente mais pobres.



Contudo, essas negociações tropeçaram, nos últimos anos, em inúmeras divergências, principalmente entre os países ricos que reivindicam mais acesso para os bens industriais e de serviços nos mercados emergentes, que exigem maior acesso para seus produtos agrícolas. "Temos 10 textos na mesa relativos aos três setores negociados, ou seja, a facilitação do comércio, o comércio e a agricultura", disse Azevêdo.

As negociações avançaram, mas nos últimos dias "a flexibilidade evaporou", lamentou o diretor geral da OMC. Dos três assuntos debatidos para Bali, o da facilitação do comércio "era o mais promissor", segundo Arancha González, diretora do Centro de comércio internacional em Genebra. Segundo cifras da OCDE um acordo para simplificar os trâmites alfandegários poderia diminuir em 10% os custos das trocas comerciais planetárias, o que representa uma quantia de cerca de 400 bilhões de dólares.

A coalizão B20, a patronal internacional com sede em Paris, também pediu na terça-feira que fosse obtido um acordo sobre a facilitação do comércio em Bali. Tal acordo permitiria lucros de um trilhão de dólares em termos de crescimento e a criação de 20,6 milhões de empregos. As exportações dos países em desenvolvimento poderiam aumentar em US$570 bilhões e as dos países desenvolvidos em US$475 bilhões, segundo um estudo do instituto Peterson.

A falta de consenso em Bali não foi produto de "uma divisão Norte-Sul" explicou o diretor geral da OMC e disse que as causas das dissensões são mais complexas. Agora, a OMC transmitirá os textos que não resultaram em consenso aos ministros reunidos em Bali, que deverão encontrar uma solução. Pouco depois de assumir seu cargo, Azevêdo - primeiro diretor latino-americano na história da OMC - afirmou que a conferência ministerial de Bali era "uma prioridade para nós", apesar de já admitir então: "Não posso fazer previsões sobre os resultados".

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