Agência France-Presse
postado em 27/11/2013 17:11
Laurel - Jane Chandler cria os grous mais raros do mundo e para que estas aves da América do Norte em risco de extinção tenham a chance de sobreviver na natureza, elas nunca devem ver seu rosto ou ouvir sua voz.Do contrário, os grous-americanos (;Grus americana;), se identificarão com homem e nunca poderá se adaptar à vida selvagem e desenvolver o instinto de fugir das pessoas e de outros predadores, explicou esta especialista do Centro Federal de Pesquisa Silvestre de Patuxent, Maryland (leste), perto de Washington.
Por isso, Chandler se disfarça de grou toda vez que se aproxima dos filhotes. Ele se cobre com uma capa do pescoço até os tornozelos, e veste um boné branco e uma espécie de véu para cobrir o rosto.
Também leva na mão um tipo de marionete com o formato da cabeça de um grou adulto e usa o bico para catar bolinhas ou uvas para alimentar um grupo de onze grous jovens de quase seis meses.
Estes filhotes já têm um metro de altura. A cabeça e as asas são marrom claro, uma cor que desaparecerá quando forem adultos, quando suas penas serão de um branco brilhante com as extremidades pretas.
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Em breve, estes onze grous jovens serão levados de avião à sua nova residência, em uma área pantanosa protegida da Lousiana (sul), onde se unirão a um grupo de outros 23 grous em cativeiro.
As aves, as maiores do continente americano, com 1,50 metro de altura, estiveram a ponto de desaparecer nos Estados Unidos há mais de um século. Elas chegaram à beira da extinção com a perda de seu hábitat, quando os pioneiros drenaram os pântanos para conseguir terras de cultivo.
Meio século de esforços
Nos anos 1940, havia apenas vinte destas grandes aves na natureza. Agora, depois de meio século de esforços e milhões de dólares gastos anualmente para repor as populações de grous-americanos, há cerca de 600, metade vivendo na natureza e a outra metade, em cativeiro.
Especialistas calculam que para que se possa manter a espécie de forma sustentada seriam necessários pelo menos mil grous-americanos vivendo na natureza em pelo menos duas populações separadas.
Dois dos quatro principais programas implementados desde os anos 1960 para reintroduzir os grous em um entorno selvagem fracassaram e um terço teve tantas dificuldades que os observadores se questionam se é possível voltar a inserir estas aves em hábitats onde já desapareceram.
Quase todas as tentativas de repovoar estes animais na natureza no Wisconsin (norte) fracassaram. Dos 132 ninhos encontrados com ovos entre 2005 e 2013, só em 22 nasceu pelo menos um filhote e só cinco deles sobreviveram um ano, segundo a ecologista Sarah Converse, do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
Com frequência, estas aves adultas deixam seus ninhos, mesmo antes de romper a casca de seus ovos, um mistério que os cientistas acreditam ter resolvido.
Segundo Converse, "os grous abandonam o ninho aparentemente porque com frequência são picados por moscas negras muito agressivas". Por isso, desde 2011, os cientistas soltam os grous em áreas onde há menos moscas deste tipo.
Outra estratégia de repovoamento consiste em entregar filhotes nascidos em cativeiro a grous adultos na natureza para que os jovens permaneçam um ano com os maiores antes de voar por conta própria.
Em 2013, quatro grous jovens foram soltas em grupos perto de grous adultos. Dois morreram rapidamente, um deles apanhado por um lobo ou coiote. Os outros dois sobreviveram, vincularam-se aos outros grous adultos e migraram com eles para o sul.
Apesar da perda de 50% das aves, "este projeto é um grande sucesso", avaliou Glenn Olsen, veterinário do USGS. Em 2014, de seis a nove grous jovens também tentarão a sorte na natureza.