Agência France-Presse
postado em 02/12/2013 11:34
Nusa Dua - A Organização Mundial do Comércio (OMC) tentará em sua reunião ministerial desta semana na ilha indonésia de Bali salvar as negociações paralisadas da rodada de Doha e sua própria credibilidade, com uma "possibilidade" de acordo limitado. Esta é a primeira reunião do tipo desde que o brasileiro Roberto Azevêdo assumiu, no fim de agosto, o cargo de diretor geral da organização de 159 países, que busca conciliar na rodada de Doha, iniciada em 2001, a agenda de liberalização do comércio mundial com a promoção do desenvolvimento. Mas o objetivo agora é bem mais modesto, pois se limita a 10% das ambições iniciais da rodada. [SAIBAMAIS]O ministro indonésio do Comércio e anfitrião do evento, Gita Wirjawan, declarou nesta segunda-feira que todos os países da OMC estão "realmente perto da linha de chegada". Ele preside também o ;G33;, um grupo de países agrícolas em desenvolvimento. "Penso que há uma esperança de que nos próximos dias, se nos sentarmos juntos com os países chave, há uma possibilidade de acordo", declarou o ministro. Wirjawan destacou os avanços nas pré-negociações da ajuda aos Países Menos Avançados (PMA), que na quinta-feira alcançaram um acordo parcial. Em uma declaração de sexta-feira, Azevêdo destacou que o "resultado da reunião está em dúvida", mas "as divergências de oposições podem ser suavizadas". "Se os ministros querem um acordo, isto é perfeitamente possível. O que precisamos é de vontade política", afirmou Azevêdo, que substituiu o francês Pascal Lamy.
O ministro indonésio recordou que "permanece em suspenso" a questão da segurança alimentar, uma demanda fundamental do G33, que deseja constituir reservas para alimentar a preço baixo os mais pobres. A OMC considera isto um subsídio e impõe limites rígidos. O governo indiano se mostra muito combativo sobre este ponto, a poucos meses das eleições legislativas de maio. Nova Délhi reiterou no domingo que será "firme a respeito da agenda chave da segurança alimentar", mas enfrenta uma forte oposição dos Estados Unidos.
Salvar o multilateralismo
A reunião ministerial de Bali não colocará em jogo apenas o sucesso das intermináveis negociações da rodada de Doha, e sim o princípio do multilateralismo, no momento em que aumentam os acordos comerciais regionais. Para Kevin P. Gallagher, analista da Universidade de Boston, alguns países, como Estados Unidos, estão dispostos a enterrar a OMC. "Ao ameaçar abandonar a OMC caso suas exigências não sejam plenamente satisfeitas, o governo dos Estados Unidos revela claramente suas intenções de concentrar-se em tratados como a Associação Transpacífica", afirma o analista, que acredita que Bali é "a última oportunidade de salvar as negociações multilaterais". A OMC testará, portanto, a própria credibilidade, segundo várias fontes.
A ministra francesa do Comércio Exterior, Nicole Bricq, disse que "sem um acordo, a OMC fica desacreditada". O próprio Azevêdo advertiu que um fracasso em Bali "custaria caro à credibilidade e à pertinência" da organização. "O que está em jogo na reunião não são apenas medidas destinadas a estimular a economia mundial, mas também o papel da OMC e do multilateralismo", escreveu Azevêdo em uma carta aberta publicada no domingo no Wall Street Journal. "Se fracassarmos aqui, as consequências serão graves", destacou.
A rodada de Doha, que aguarda um acordo desde o lançamento em 2001, quer reduzir os obstáculos ao comércio internacional para estimular a economia mundial. Segundo um estudo do instituto Peterson, de Washington, um acordo propiciaria a criação de 34 milhões de empregos em todo o mundo. Uma das principais questões que bloquearam os avanços da rodada foram os desejos divergentes: os países desenvolvidos querem mais acesso para seus produtos nos mercados emergentes, que por sua vez exigem mais abertura para seus produtos agrícolas.