Agência France-Presse
postado em 17/01/2014 16:31
Asfixiados pelo desemprego e a austeridade, os espanhóis se rebelam contra os altos preços da eletricidade que, com um aumento de 42% desde o começo da crise, agrava a pobreza de milhões de pessoas."As cifras são arrepiantes", afirma Cote Romero, coordenadora da Plataforma por um Novo Modelo Energético. Segundo ela, quase um milhão e meio de lares ficaram sem energia por falta de pagamento em 2012 (últimos dados disponíveis).
São famílias que tomam banho com água fria e não podem cozinhar. "Sem chegar a este nível dramático, há muitas famílias que estão racionando muito o consumo de energia", disse a porta-voz de um coletivo que reúne 270 organizações, desde ;indignados; a partidos de esquerda, passando por sindicatos, cooperativas ou ONGs de defesa do meio-ambiente.
No final de 2012, 17,9% dos lares espanhóis, ou seja, mais de três milhões, não podiam esquentar suas casas o suficiente, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
"No caso das famílias atendidas pela Cruz Vermelha Espanhola, esta cifra dispara até 38%, se transformando em um problema de primeira magnitude", que gera enfermidades e exclusão social, denunciou nesta sexta-feira a organização.
Na Espanha já é conhecido como "pobreza energética" e nos últimos dois anos disparou mais de 300% as ajudas de algumas delegações da Ong católica Cáritas. A um desemprego de 26%, se soma o elevado preço da eletricidade na Espanha, terceiro mais alto da UE atrás do Chipre e da Irlanda.
Uma família com dois filhos pagou em média 844,8 euros anuais em 2013, segundo dados do Ministério da Indústria. A mesma família pagava 590,2 euros em 2008, quando estourou a crise. Frente a esta situação, quase meio milhão de consumidores se uniu em outubro à primeira compra coletiva de eletricidade realizada na Espanha, para conseguir um preço negociado.
Graças a uma empresa online, HolaLuz.com, que distribui "100% de energia verde", conseguiram uma economia média de 49 euros ao ano, que pode subir a 180 euros segundo o caso, explica a Organização de Consumidores e Usuários, artífice da iniciativa.
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"Foi um sucesso graças a todas as pessoas que levantaram a voz para dizer ;Quero pagar menos luz;", comemoraram os participantes.
O preço da eletricidade na Espanha é determinado, em parte, pelo Estado, mediante uma tarifa pelo transporte da energia que inclui ajudas, por exemplo, às renováveis. O restante é adotado pelo mercado, mediante um sistema de leilão entre empresas abastecedoras - produtoras ou distribuidores de energia - e vendedoras.
"É um leilão especulativo em que metade dos agentes são agentes financeiros", denuncia Romero, cuja plataforma luta política e juridicamente tanto na Espanha como na Comissão Europeia. O leilão de dezembro, que devia determinar a tarifa para o primeiro trimestre de 2014, fez o preço disparar, provocando uma alta de mais de 11%. O escândalo foi tal que o governo a anulou, fixou excepcionalmente um aumento de 2,3% e empreendeu a busca de um novo mecanismo.
O mercado "deve aumentar sua transparência e deve aumentar sua concorrência", afirma Alberto Nadal, secretário de Estado de Energia.
Contudo, em sua opinião, os elevados preços se devem a uma introdução das energias renováveis pelo anterior governo socialista, "muito rápida e subsidiada quando as tecnologias eram muito caras". Isso criou, afirma, um déficit que, no final de 2012, ascendia a 26 bilhões de euros, pelo qual os consumidores pagam anualmente 2,7 bilhões de euros de amortização e juros.
Para José Luis García, responsável por Energia do Greenpeace Espanha, "esses argumentos são falsos" e respondem a "uma campanha das grandes companhia elétricas para desacreditar e depois eliminar as energias renováveis pela concorrência".
"O preço da energia é mais barato quanto mais energia renovável está disponível", afirma. A prova: em 2013, ano em que as energias limpas geraram um recorde de 42,4% do total, o preço da eletricidade caiu pela primeira vez desde 2004, uma média de 0,9% para os lares, segundo dados oficiais.