;A ideia da página é que o comerciante pratique um valor justo pela mercadoria. Há estabelecimentos que pedem R$ 21,90 na porção de 300 gramas de batata fria. O quilo do produto congelado, porém, sai por cerca de R$ 3. Sei que o dono tem custos, como óleo, gás e funcionários, mas pedir 700% a mais? É surreal;, indignou-se o comunicador Flávio Peixe Silva Rosa, um dos organizadores da página. Ele teve a ideia de criar a BH $urreal depois de perceber que a primeira página do gênero, feita há poucos dias por três amigos no Rio de Janeiro e com mais de 110 mil adeptos, havia conquistado bons resultados.
Além do Rio e de BH, páginas com a expressão ;$urreal ; não pague; foram montadas em São Paulo, Brasília, Curitiba e Recife. No caso da capital mineira, a maioria das críticas é direcionada a bares e restaurantes, setor em que muitas mercadorias subiram bem acima da inflação oficial do país em 2013 (5,91%). Aqui, a inflação da cerveja disparou 13,53%. A da refeição fora de casa, 7,34%. A do lanche, 9,77%. Na prática, porém, alguns empreendimentos subiram os preços bem acima desses percentuais. Quem conta é o professor Renan Loreto: ;Uma cerveja num bar da Rua Francisco Sales custava R$ 6 no meio do ano passado. Agora, R$ 8 (diferença de 33,3%);. Insatisfeito, ele passou a prosear e a beber com amigos em outro bar, na mesma rua, onde uma garrafa idêntica é negociada a R$ 5. ;O bar é tradição do belo-horizontino. Nosso lazer está cada vez mais difícil. Como pode haver preços tão diferentes na mesma rua?;, questiona o rapaz.
Defesa
Lucas acrescenta que é difícil analisar mercadorias semelhantes com preços bem diferentes em estabelecimentos que não sejam da mesma rede. ;No caso da batata frita, por exemplo, não é só a porção que você está comprando. Você está ;comprando; o ambiente: as pessoas do lugar, o atendimento etc. Já no caso da cerveja, as fabricantes vendem a mercadoria por preços diferentes (para estabelecimentos vizinhos), pois levam em conta fatores como o interesse pelo ponto e o poder de barganha (do comerciante).;
Repercussão faz preço cair 33% no RJ
;Eu e dois amigos ; Flávio Soares e Andréa Cals ; reclamávamos dos preços no Rio e um quarto colega propôs, numa nota de jornal, que o real fosse substituído pela ;moeda; surreal. Daí tivemos a ideia de fazer a página. Em 24 horas, tínhamos 20 mil curtidas. Já são mais de 110 mil;, disse a crítica de arte Daniela Name, uma das fundadoras do grupo.
Uma das primeiras postagens no Rio $urreal foi a foto de um cardápio de um quiosque da Praia de Ipanema que vende o misto quente por R$ 20. O dono do empreendimento ainda não se sensibilizou com os vários comentários. ;Se a gente se recusar a pagar o preço cobrado, as vendas caem e o dono baixa o preço. O brasileiro precisa ser um consumidor consciente, precisa compreender que só há comerciantes que cobram valor abusivo porque tem quem pague;, completa.
A quantidade de seguidores e o interesse de outras capitais em fundar comunidades semelhantes levaram Daniela a avaliar que o brasileiro tem uma demanda reprimida em relação a protestos relacionados aos preços exorbitantes praticados em várias partes do país. ;A onda é deixar de comprar. É bom saber que outras capitais estão fazendo o mesmo;.
Comentários
Em Belo Horizonte, ontem, vários internautas se manifestaram sobre a criação da comunidade no site do Estado de Minas. O internauta Marcelo Loschi, por exemplo, elogiou a iniciativa: ;Ótima. Parte da culpa é dos consumidores, que gostam de pagar caro;. Ele acrescenta que conhece muita gente que ;gosta do que é caro; não necessariamente do que é bom!!;.
Gilson Júnior acredita que a internet poderá ajudar a reduzir os preços cobrados no país: ;Finalmente as pessoas estão utilizando a força das redes sociais para algo útil, que poderá favorecer a todos! As empresas que abram os olhos e baixem seus preços abusivos;.
Renato Rego, por sua vez, alerta para a possibilidade de aumentos exorbitantes em função da Copa do Mundo: ;Já era esperado. Com a chegada da Copa, todos os serviços vão ser inflacionados! Até parece que a cidade vai ficar superlotada de estrangeiros. Quem é prejudicado somos nós mesmos. Resta saber se, ao final da fanfarra absurda e abusiva da Copa, os preços vão voltar ao normal;.