Economia

Islã impede aplicações no mercado financeiro se ganho não for repartido

Situação financeira de muçulmanos é tratada com discrição

Simone Kafruni
postado em 28/01/2014 06:01
O Centro Islâmico de Brasília, na Asa Norte, recebe entre 4 mil e 5 mil seguidores. Local é mantido pelo governo da Arábia Saudita

Segunda maior religião do mundo e a que mais cresce em número de fiéis, o Islamismo ainda está distante do cotidiano da maioria dos brasileiros. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, num país de quase 200 milhões de habitantes, apenas 40 mil se declaram muçulmanos, apesar de as entidades islâmicas assegurarem a existência de 1,7 milhão de seguidores em terras nacionais.

Tamanha divergência dá a dimensão da disparidade nas informações em torno do Islamismo no Brasil, sobretudo quando o assunto é dinheiro ; um tabu entre os seguidores. Por princípio, a economia da fé muçulmana é bem distinta das demais religiões. O pressuposto básico da comunidade islâmica (Ummah) diz que os bens não são apenas para o conforto próprio, mas para o de todos. A prática inclui a divisão das riquezas, criminaliza a usura ; ganhar dinheiro com juros, por exemplo, é proibido ; e obriga o pagamento de tributos para a distribuição de recursos aos necessitados.

A despeito de valorizar o desprendimento material, dificilmente líderes religiosos, praticantes ou mesmo especialistas divulgam valores que envolvam a gestão administrativa e financeira do Islamismo, que recebe muito apoio internacional de países muçulmanos, principalmente do Oriente Médio e do norte da África. Para a Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ), é difícil apontar números, pois cada mesquita e instituição islâmica é mantida de acordo com as doações de seus frequentadores e colaboradores.



;Em comunidades islâmicas grandes, como as de São Paulo, por exemplo, as contribuições, evidentemente, são maiores do que em mussalas (salas de oração) de cidades do interior. E cada entidade cuida de sua situação econômica, de modo que não temos como falar em valores arrecadados e gastos;, informa a sociedade. Que ressalta: no Brasil, os únicos bens materiais do Islã são as mesquitas, os centros, as mussalas, as escolas e os cemitérios.

Na avaliação de Eduardo Santana, aluno do Instituto Latino-Americano de Estudos Islâmicos (ILAEI) e ex-presidente do Centro Islâmico do Recife (CIR), a comunidade muçulmana no país movimenta cifras consideráveis. ;Mas ter um controle sobre os recursos não é fácil. Algumas entidades preferem manter costumes tradicionais que envolvam a arrecadação direta. Assim, na oração da sexta-feira (Salatul;Jumuah), as ofertas são colocadas de forma visível. O que é arrecadado, na maior parte das vezes, é destinado às obras sociais e à manutenção dos templos;, explica.

Princípios

Todas as verbas para manter uma mesquita vêm dos próprios fiéis e de doações nacionais e internacionais, diz Santana. O Centro Islâmico do Brasil ; a maior mesquita da América Latina, instalada na capital federal desde 1990 ; é totalmente financiado pela Embaixada da Arábia Saudita no país. No terreno com 2,8 mil metros quadrados na Asa Norte, estão dispostos três prédios nos quais funcionam a escola, que oferece aulas de árabe, a mesquita, com capacidade para mil pessoas, e a casa do Sheikh Mohammed, líder religioso.

A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique .

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação