Jornal Correio Braziliense

Economia

Arno: turbulência internacional não afetou fundamentos da dívida pública

Segundo ele, a maior parte do impacto da diminuição das injeções de dólares pelo Fed foi absorvida no ano passado

As turbulências no sistema financeiro global provocadas pela retirada de estímulos nos países desenvolvidos não afetaram os fundamentos da dívida pública brasileira, disse nesta quarta-feira (29/1) o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Segundo ele, a maior parte do impacto da diminuição das injeções de dólares pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, foi absorvida no ano passado.

;As mudanças nos Estados Unidos impactaram o mercado financeiro no ano passado. Em 2013, tivemos um momento delicado, mas o Brasil se saiu bem. Para 2014, não sou indicado para fazer previsões sobre o comportamento da economia internacional, mas o importante é que grande parte do impacto sobre as treasuries [títulos do Tesouro norte-americano] já ocorreu. O importante é que os fundamentos do Brasil nos têm permitido transitar bem;, declarou o secretário ao comentar o Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida pública de 2014.

Segundo Augustin, a decisão do Banco Central da Turquia de elevar os juros básicos do país de 7,75% para 12% ao ano para conter a desvalorização da moeda local, a lira, terá poucos efeitos sobre a economia brasileira. ;Não vou fazer nenhum comentário específico sobre a Turquia. Acho normal que um ou outro país passe por volatilidade no cenário atual. Isso não chega a afetar o Brasil de forma significativa;, disse.

Para o secretário, o fato de o governo ter conseguido melhorar a composição e aumentar o prazo da Dívida Pública Federal (DPF) em 2013 mostra que os investidores mantêm a confiança no Brasil e que a economia do país continua sólida. ;O Tesouro se relaciona com o mercado no momento dos leilões [de títulos da dívida pública]. Os fundamentos [da economia brasileira] se mostram de forma objetiva, como a composição da dívida pública, que está próxima do nível ótimo;, argumentou.



De acordo com o Tesouro, o nível de composição da dívida pública considerado ideal consiste em 45% de títulos prefixados, 35% atrelados a índices de inflação, 15% vinculados à Selic (juros básicos da economia) e 5% de títulos e dívidas ligadas ao câmbio, incluindo a dívida pública externa. O PAF prevê os seguintes intervalos para a Dívida Pública Federal no fim de 2014: 40% a 44% em títulos prefixados, 33% a 37% em índices de preços, 14% a 19% em taxas flutuantes como a Selic e 3% a 5% vinculados ao câmbio.

O secretário também anunciou que, nos próximos meses, o Brasil pode lançar títulos em euro ou iene (moeda do Japão) no mercado internacional. Desde 2006, o Tesouro não emite papéis em euro. Os títulos vinculados ao iene não são lançados desde 2001. ;Detectamos o interesse de empresários brasileiros em captar recursos no exterior em outras moedas além do dólar. Então podemos entrar no mercado para ajudar essas companhias;, explicou.

Segundo Augustin, o Tesouro não lança mais títulos no exterior para captar recursos, mas para obter as menores taxas possíveis e fornecer um referencial para as empresas que lançarem papéis em outros países. No ano passado, o governo fez duas emissões no exterior. Em maio, captou US$ 800 milhões com juros de 2,75% ao ano por meio de papéis com vencimento em 2023.

Em outubro, o Tesouro captou US$ 3,25 bilhões por meio de títulos com vencimento em 2025. No entanto, por causa da redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos, os juros obtidos corresponderam a 4,305% ao ano, a taxa mais alta desde 2010.

Por meio da dívida pública, o Tesouro Nacional emite títulos e pega dinheiro emprestado dos investidores para honrar compromissos. Em troca, o governo compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode seguir a taxa Selic, a inflação, o câmbio ou ser prefixada, definida com antecedência.