postado em 19/03/2014 06:00
A ascensão social de cerca de 40 milhões de brasileiros antes considerados pobres à classe média e ao mercado de consumo produziu inflação no país. A avaliação é do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, que creditou à ampliação da renda familiar, por meio da forte correção do salário mínimo e do reforço do Bolsa Família, o fato de o custo de vida se manter sistematicamente acima do centro da meta de 4,5% ao ano perseguida pela autoridade monetária. Para ele, a persistência da carestia em patamar elevado ; média de 6% ao ano ; é estrutural. ;Quarenta milhões de pessoas disputando consumo, não só de serviços, mas infraestrutura, têm impacto (nos preços);, disse ontem, ao participar de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
[SAIBAMAIS]No entender de Tombini, nem o governo nem o setor privado se prepararam para atender o expressivo avanço da demanda. Do lado público, faltaram obras para a ampliação, por exemplo, dos aeroportos. Com a nova classe média entrando pela primeira vez em um avião, os preços das passagens aéreas dispararam. Também ficaram mais caros serviços básicos que antes eram luxo para esse público, como cabeleireiro, manicure, mecânico de carro e pintor de parede. Os aumentos acompanharam o salário mínimo e foram facilitados pelo fato de não se ter como importar esse tipo de mão de obra.
Do lado da indústria, faltaram produtos. Sem capacidade de investimentos e com a produtividade em baixa, as empresas tiveram que abrir espaço para os importados, o que, ressalta-se, ajudou a segurar parte dos aumentos de preços. O varejo, por sua vez, não se intimidou em remarcar constantemente as tabelas, certo de que, com a sensação de riqueza, inflada pela queda do desemprego e com os consumidores ávidos por satisfazerem necessidades reprimidas há tempos, pagariam o que fosse pedido. Essa festa do consumo foi amplificada pela oferta maciça de crédito. Não à toa, a nova classe média está sofrendo hoje com o superendividamento.
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