Os bancos brasileiros têm capacidade para resistir ao impacto de uma forte queda nos preços de imóveis residenciais, indica simulação divulgada nesta quinta-feira (20/3) pelo Banco Central (BC), no Relatório de Estabilidade Financeira. De acordo com o relatório, a simulação foi feita devido à importância da oscilação de preços de imóveis para a estabilidade financeira.
Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, a simulação foi feita com base na queda de preços de imóveis nos Estados Unidos, que gerou a crise financeira internacional, iniciada em 2008.
Conforme o relatório, apesar de, em tempos de normalidade, o valor da venda do imóvel em leilão pelo banco cobrir quase totalmente o valor do empréstimo do inadimplente, o dinheiro recuperado pela instituição financeira após o pregão equivale a apenas 70% do preço da residência.
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Com isso, só se considera insolvência (perda total do capital principal da instituição) de algum banco se houver queda de 55% no preço dos imóveis. E, para que houvesse desenquadramento de algum banco em relação às regras de exigência de capital, teria que ocorrer queda de 45%.
;Ambos os choques são maiores do que a queda acumulada, ocorrida em um período de três anos, entre os valores máximo e mínimo dos imóveis residenciais nos Estados Unidos durante a recente crise do subprime [créditos de alto risco vinculados a imóveis, com garantia insuficiente, o que desencadeou a crise financeira] de 33%;, diz o relatório.
[SAIBAMAIS]O estudo do Banco Central ressalta que o sistema financeiro como um todo não ficaria desenquadrado das regras de exigência de capital, mesmo em casos extremos de desvalorização.
De acordo com a instituição, um dos fatores que explicam a resistência dos bancos é que, no Brasil, geralmente, o imóvel não é totalmente financiado pelo banco. Então, uma parte do imóvel já fica paga. Além disso, o relatório destaca que o sistema de amortização constante (SAC), que é o mais usado, permite redução mais rápida do saldo devedor do que outros sistemas conhecidos, como o Price. Outro fator é que os bancos fazem provisões (recursos reservados para o caso de inadimplência) superiores ao mínimo regulamentar. O BC também considera que a capitalização do sistema financeiro está em níveis elevados.
Meirelles enfatizou que não há bolha imobiliária no Brasil, nem indicação de mudanças muito bruscas nos preços no país. ;Com certeza pode-se dizer [que não há bolha]. Não tem elementos que possam caracterizar bolha;, destacou. Segundo ele, há bolha quando os preços dos ativos sobem sem nenhuma justificativa econômica. Meirelles acrescentou que os preços de imóveis subiram recentemente, acompanhando o aumento da renda, mas os valores vão se equilibrando à medida em que a demanda por casas é atendida.