Agência France-Presse
postado em 02/04/2014 16:32
O presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu nesta quarta-feira uma investigação profunda sobre o impacto de duas hidrelétricas brasileiras na inundação de um povoado na Amazônia boliviana, onde a água segue subindo, embora as chuvas tenham parado.As inundações, resultado do transbordamento do rio Madeira, afetaram nas últimas semanas os povoados amazônicos de Trinidad, Santa Ana de Yacuma e San Joaquín, e também não param em Guayaramerín, na fronteira com o Brasil. "Em Guayaramerín, (a água) continuava subindo até esta manhã (...) Acredito que hoje tenha subido 2 centímetros", disse Morales em uma coletiva de imprensa.
"Se a água está subindo, já estaria totalmente confirmado que as usinas hidrelétricas do Brasil estão afetando" a região, considerou o presidente. No entanto, o governante afirmou que cabe às comissões técnicas das chancelarias dos dois países estabelecer se a atividade das hidrelétricas "está afetando ou não".
Mas o que está acontecendo em Guayaramerín é muito raro, insistiu. A relação entre o funcionamento das represas brasileiras Jirau e Santo Antônio e as inundações foram abordadas nesta semana pelas chancelarias da Bolívia e do Brasil, que definiram a formação de uma comissão bilateral.
Diversas organizações alertaram desde 2007 para os riscos de alterações hidrológicas da bacia do rio Madeira devido à construção dessas represas, lembrou a organização não governamental Lidema (Liga de Defesa do Meio Ambiente).
Santo Antônio fica localizada a 180 km da fronteira com Bolívia e Jirau a 85 km no estado de Rondônia (norte). A justiça brasileira ordenou em março que as empresas responsáveis pelas hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio auxiliem os atingidos pelo transbordamento do rio Madeira.
O Ministério Público brasileiro também ordenou que as duas hidrelétricas deverão realizar novos estudos sobre o impacto que suas represas têm no meio ambiente.
As inundações atingiram 60.000 famílias em cinco regiões da Bolívia que sofreram com uma estação de chuvas rigorosa, que deixou mais de 60 mortos em cinco meses.
Segundo um balanço oficial, 63.000 hectares de cultivos foram danificados e 110.000 cabeças de gado morreram. Cerca de 4.600 famílias ainda vivem em abrigos temporários.
Morales garantiu nesta quarta-feira um orçamento de 476,6 milhões de dólares para a reconstrução e reabilitação das zonas afetadas.