postado em 02/04/2014 18:05
A indústria brasileira de games (jogos eletrônicos) tem competência, profissionais qualificados e escolas que formam pessoas para trabalhar no setor, mas carece de maior experiência nas áreas de negócios, comercial e administrativa. Esse é o quadro geral traçado pelo Levantamento de Informações sobre a Indústria de Games e Políticas Públicas para o Setor, divulgado nesta quarta-feira (2/4) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).A pesquisa foi conduzida pela Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), entidade selecionada por meio de chamada pública. O trabalho, que se estendeu por 12 meses e ouviu 133 empresas nacionais desenvolvedores de games, foi financiado pelo BNDES, com recursos não reembolsáveis, no valor de R$ 1,3 milhão, oriundos do Fundo de Estruturação de Projetos do banco.
A indústria de games no Brasil é pequena e iniciante, em comparação com os líderes do mercado, disse à Agência Brasil o vice-coordenador do estudo, Davi Nakano, do Núcleo de Engenharia de Produção da USP. A sondagem procura identificar o que é possível fazer para posicionar a indústria nacional no cenário mundial, pois o país não aparece como produtor importante.
Nakano disse que o setor tem carência de profissionais mais especializados e experientes. A maioria das empresas é muito jovem, com menos de três anos. Uma minoria tem mais de cinco ou dez anos. ;É uma indústria jovem, que tem competências, mas padece do fato de ser formada por empresas muito pequenas e da falta de experiência maior. A gente tem profissionais brasileiros muito experientes e competentes, mas hoje eles estão fora do país;.
Por serem muito jovens, Nakano insistiu que as empresas têm competência técnica, ;mas não têm tanta competência na área de negócios. O que acaba ocorrendo é um fenômeno. Desenvolvem um bom produto, mas não sabem como colocar no mercado;. De maneira geral, o empreendedor de games tem paixão pelo assunto, conhecimento técnico, mas falta uma competência comercial e administrativa para lançar os produtos no mercado.
É preciso, defendeu, que se criem condições de financiamento e capitalização para que essas empresas de pequeno porte consigam se desenvolver, além de ações no sentido de dar uma capacitação maior para os empresários, do ponto de vista do negócio e também na parte administrativa e comercial. ;Ações no sentido de criar um ambiente de negócios mais propício para essas empresas;.
Segundo Davi Nakano, uma maneira de ajudar o setor é criando demanda, que poderia vir, por exemplo, com a valorização de jogos para o ensino, nas escolas.
A pesquisa cita dados da consultoria internacional PricewaterhouseCoopers (PWC), segundo a qual o mercado mundial de jogos digitais movimentou, em 2011, cerca de US$ 74 bilhões, com previsões de que deve ultrapassar US$82 bilhões em 2015. Em contrapartida, no Brasil, a estimativa é que o mercado esteja próximo de US$ 3 bilhões. Segundo a PWC, as vendas do setor devem crescer, até 2016, a uma média de 7,2% ao ano. A Ásia aparece como o maior mercado mundial, seguido pela Europa e pelos Estados Unidos.
De acordo com a USP, a maior concentração de empresas de games no Brasil ocorre no Sudeste, liderada pelo estado de São Paulo. Em seguida, vêm Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Na Região Nordeste, destaque para Pernambuco, devido à existência do Porto Digital, polo tecnológico do estado. Apenas 4% das empresas brasileiras têm faturamento maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões.
A divulgação do retrato do setor brasileiro de jogos eletrônicos ocorreu na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, e contou com a participação do superintendente de Pesquisa e Acompanhamento Econômico da instituição, Fernando Puga, além de acadêmicos da USP, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.