Economia

Turista LGBT gerou 30% da receita do Rio de Janeiro no carnaval

Os motivos que levaram os turistas a escolher o Rio foram principalmente a recomendação de amigos e familiares (46,1%) e a crença de que a cidade é um destino amigável para os LGBT (42,8%)

postado em 02/04/2014 19:43
Com um impacto econômico direto de R$ 461 milhões, os turistas LGBT responderam por 30,75% da receita do Rio de Janeiro com turismo no carnaval, apesar de serem apenas 15% do público que visitou a cidade, de acordo com pesquisa da Riotur, divulgada nesta quarta-feira (3/4). O levantamento foi feito pela primeira vez neste ano, e contou com a colaboração da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, do município, e do Observatório de Turismo, da Universidade Federal Fluminense.

Enquanto o turista médio gastou R$ 198 por dia na cidade, os turistas homossexuais e bissexuais brasileiros deixaram R$ 302,10, e os estrangeiros R$ 548,82 - 270% a mais que a média do público geral. Além de consumirem mais, os LGBT também ficaram mais dias: enquanto o turista teve permanência média de sete dias, os gays brasileiros ficaram 9,4 dias e os LGBT estrangeiros 12,4 dias.

"O público gay viaja mais e gasta mais, e por isso é tão disputado por várias cidades do mundo. Uma das coisas que a pesquisa deixa bem claro é que o Rio está consolidado como um destino LGBT internacional. Estamos entre as cinco cidades que mais recebem esse tipo de turismo, junto com Tel Aviv, Londres, Nova York e Berlim, com uma característica bem peculiar, de sermos uma cidade com praia, floresta e lagoa no perímetro urbano de uma metrópole. Esse estilo de vida típico da cidade, o jeito carioca, agrada o turista, e mais ainda o turista gay", disse o coordenador de Diversidade Sexual da prefeitura, Carlos Tufvesson.



Entre os dados mais expressivos da pesquisa está justamente a reincidência dos turistas LGBT: 45,6% já tinham visitado a cidade pelo menos dez vezes, enquanto apenas 12,5% estavam no Rio pela primeira vez. Os motivos que levaram os turistas a escolher o Rio foram principalmente a recomendação de amigos e familiares (46,1%) e a crença de que a cidade é um destino amigável para os LGBT (42,8%).

"É um paradoxo com o quadro de aumento dos crimes de ódio no Brasil, não só contra gays, mas contra as mulheres e todas as minorias. O turista tem uma percepção diferente. A reclamação deles é principalmente pela falta de sinalização bilíngue", diz o coordenador.

A Riotur menciona também um dado da Pesquisa Mosaico/USP, que estima em 137.700 o número de turistas LGBT na cidade, com média de idade de 26 anos e renda média de 8,7 salários mínimos. O turista LGBT é principalmente homem (85,8%), brasileiro (84,2%) e com nível superior (86,3%). Entre os nacionais, 32,7% eram de São Paulo; 19,2%, de Minas Gerais; e 13,5%, do interior do estado do Rio. Os estrangeiros vieram principalmente de países desenvolvidos ocidentais: 20,4% dos Estados Unidos, 10,2% da Inglaterra, 7,4% do Canadá, 6,5% da Alemanha e 5,6% da França. Entre os latino americanos, os mais numerosos foram da Argentina (5,6%), do México (4,6%) e do Chile (3,7%).

Os gays se hospedaram, principalmente, em casas de amigos e parentes (45,8%) e em casas ou apartamentos alugados (23,8%). Apenas 16,3% ficaram em hotéis e 5,5%, em albergues.

Em uma nota de zero a cinco, a avaliação deles sobre a cidade foi de 3,9, sendo meios de hospedagem (4,25) e hospitalidade (4,21). As piores notas ficaram para os altos preços do Rio (2,3) e para a limpeza urbana (2,44), que durante o carnaval sofreu o impacto da greve dos garis por melhores salários e condições de trabalho.

Após a divulgação da pesquisa, a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio) pediu que outra apresentação fosse feita a comerciantes da cidade. Para Tufvesson, a iniciativa privada ainda precisa reconhecer o potencial do público LGBT: "É um turista que gasta bastante e que vem ao Rio com frequência, mas os empresários ainda não têm o menor conhecimento disso. Sou contra a guetização, que é fazer bares, boates e restaurantes gays. É fundamental que qualquer estabelecimento do Rio seja frequentável por qualquer cidadão. Já realizamos a capacitação do Programa Rio Sem Preconceito, e a lei prevê até a perda definitiva de alvará em caso de discriminação. Quem atender bem ao cidadão, vai atender bem ao gay. É preciso trabalhar o direito humano de forma plena".

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