Jornal Correio Braziliense

Economia

Argentinos fazem greve contra política econômica de Cristina Kirchner

Greve começou com o cessar das atividades nos postos de combustível e transporte público nessa quinta-feira (10/4)



Desde a madrugada grupos de esquerda radical formaram piquetes nas principais rotas de acesso a Buenos Aires. "É uma paralisação que vai ter uma ampla adesão, é consequência do mal-estar entre as pessoas", afirmou o líder dos caminhoneiros, Hugo Moyano, líder do protesto e da central operária CGT, que enfrenta a ala kirchnerista que agrupa grandes grêmios industriais, comerciais, bancários e de docentes.

Os sindicatos que convocaram a greve agrupam setores de centro-esquerda e até a esquerda radical. É incerto o nível de adesão que a greve terá, mas o objetivo é paralisar por 24 horas esta nação confrontada com uma forte inflação, de mais de 7% no primeiro bimestre de 2014 e superior a 30% em 2013.

A medida foi avaliada por alguns sindicatos e analistas como um jogo político para desafiar o governo de centro-esquerda de Kirchner, que também enfrenta um crescente descontentamento social pela insegurança nas cidades grandes, onde nas últimas semanas foram registrados ao menos 12 casos de moradores que tentaram fazer justiça pelas próprias mãos contra supostos ladroes.

"Todos tem o direito à greve", declarou Kirchner, cujo governo tenta impedir os reajustes salariais discutidos entre patrões e empregados, apesar de a grande maioria dos sindicatos já ter acertado aumentos em torno dos 30%, o que vai puxar ainda mais a inflação.

A Argentina tem 10 milhões de trabalhadores registrados, e ao menos 40% são filiados a algum sindicato. O número de assalariados sem registro é estimado em quatro milhões. "É uma greve política, este não é o momento de parar", disse Antonio Caló, líder de 150 mil metalúrgicos reunidos na ala governista da CGT.

Moyano foi candidato à presidência em 2011 com seu pequeno partido Cultura, Educação e Trabalho, e agora busca construir o braço sindical da Frente Renovadora, do deputado peronista dissidente e presidenciável Sergio Massa. A esquerda "trotskista" organizará piquetes em avenidas e estradas para apoiar a greve, mas as demais organizações não promoverão protestos nas ruas.

"Nunca sou a favor de greve, mas não é possível viver com este nível de inflação", disse Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e um dos presidenciáveis para 2015 pelo partido opositor Proposta Republicana (PRO, direita).

A última greve geral convocada pelos sindicatos opositores na Argentina ocorreu em novembro de 2012, e paralisou parcialmente o país.