Agência France-Presse
postado em 29/05/2014 16:15
Washington - Os preços dos alimentos no mundo voltaram a subir pela primeira vez em quase dois anos como consequência, entre outros fatores, da disparada dos preços na Ucrânia, indicou nesta quinta-feira (29/5) o Banco Mundial (BM).Entre janeiro e abril os preços internacionais aumentaram 4%, compensando sua queda de 3% registrada nos três meses anteriores, indica o BM em seu relatório trimestral.
A alta dos preços do trigo (%2b18%), do açúcar (%2b13%) e do milho (%2b12%) foi particularmente sensível.
Este aumento põe fim à queda sustentada observada a partir do pico de agosto de 2012, de acordo com o BM, que indica, no entanto, que o nível dos preços dos alimentos em abril continua sendo 2% inferior ao registrado um ano antes.
"O aumento da incerteza climática e da demanda de importações e, em menor medida, a incerteza em torno da evolução dos acontecimentos na Ucrânia explicam em grande parte o aumento dos preços", afirma o BM.
Em meio a uma profunda crise política e econômica, a Ucrânia, terceira exportadora mundial de milho e sexta de trigo, registra os aumentos mais espetaculares.
Entre janeiro e abril, o preço do milho subiu 73% na Ucrânia; e o do trigo, 37%.
O Banco Mundial também manifestou preocupação com a seca que afeta as regiões produtoras de alimentos nos Estados Unidos.
No entanto, o aumento foi mitigado pela forte queda dos preços do trigo na Argentina (-38%), do milho em Moçambique (-41%) e do sorgo na Etiópia (-43%) durante este trimestre.
No mesmo período, os preços internacionais do arroz caíram 12%, observa o BM.
"Nos próximos meses devemos vigiar de perto estes preços para garantir que novas altas não exerçam mais pressões sobre os mais desfavorecidos", indica Ana Ravenga, que exerce uma das vice-presidências do BM.
Em alguns países que vivem períodos de tensão econômica, o aumento dos preços dos alimentos foi sentido. Na Argentina, o preço da farinha aumentou 70% entre abril de 2013 e o mesmo mês deste ano.
O informe é um novo sinal de que a tendência nos preços dos alimentos pode estar mudando, uma preocupação já manifestada pelas Nações Unidas, que em abril observaram o mesmo movimento de alta.
O relator das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier De Schutter, alertou que pode estar por vir um período de "preços de alimentos altos e voláteis" e, consequentemente, de protestos.
Em 2007 e 2008, a disparada de preços provocou "dezenas" de revoltas de fome, da Índia a Camarões, passando pelo Haiti, lembrou o BM em seu relatório.
Segundo o BM, desde 2007, ocorreram 51 protestos desse tipo no mundo em 37 países diferentes, em geral causados pelo aumento dos preços.
"Os choques nos preços dos alimentos dão origem a conflitos, os estimulam e fomentam a instabilidade política", advertiu o organismo.