Jornal Correio Braziliense

Economia

Argentina exportará à Índia central para produzir urânio com fins médicos

Os argentinos têm 30 meses para entregar a usina, que representará uma economia para a Índia, que vinha importando radioisótopos

A Argentina anunciou esta semana a venda de uma central para para produzir urânio de baixo enriquecimento com fins medicinais, após ter exportado nas últimas décadas reatores a Peru, Egito, Austrália e Argélia.

A ponta de lança desta venda é a empresa pública Investigaciones Aplicadas (INVAP, Pesquisas Aplicadas), de propriedade do governo da província de Rio Negro (sul), que acaba de assinar um acordo de US$ 35 milhões com a Índia para construir uma usina que produz radioisótopos.

Trata-se, especificamente, do Molibdênio-99, usado para gerar o Tecnécio-99, o radioisótopo mais empregado na medicina nuclear, uma disciplina que revolucionou o diagnóstico e o tratamento de várias doenças.

O Tecnécio-99 é usado para fazer análises que detectam e tratam diferentes tipos de câncer, cardíacos, pulmonares, no cérebro e nos ossos, entre outros.



"No caso da Índia, o reator que será usado é um reator projetado e construído pelos cientistas indianos e que está operando há muitos anos. A INVAP fornecerá uma usina radioquímica", explicou à AFP o engenheiro Juan Pablo Ordóñez, diretor da Área de Projetos Nucleares da empresa.

Ordoñez afirmou que "as partes essenciais da usina e os equipamentos serão construídos na Argentina e serão enviados em seguida a Mumbai para ser montados no edifício correspondente".

Os argentinos têm 30 meses para entregar a usina, que representará uma economia para a Índia, que vinha importando radioisótopos.

Desde a sua criação em 1976, a INVAP tem participado ativamente em projetos relacionados com a energia nuclear. Um dos feitos de maior destaque na área foi o desenvolvimento autônomo da tecnologia de enriquecimento de urânio, mediante o método de difusão gasosa.

A empresa fez sua primeira exportação na década de 1970 ao Peru, país para o qual vendeu um reator experimental e um centro atômico dotado de um reator de pesquisas.

Além do Peru (1978 e 1988), a Argentina também exportou reatores para Argélia (1989), Egito (1997, por 100 milhões de dólares) e Austrália (2007, por 180 milhões de dólares).

Também nos anos 1980, vendeu para Cuba uma usina de produção de radiofármacos e equipamentos de telecobaltoterapia para Brasil, Bolívia, Colômbia, Egito e Índia, assim como 19 centros de radioterapia à Venezuela.

A Argentina sempre defendeu o uso pacífico da energia nuclear e "a usina (indian) usa urânio de baixo enriquecimento, contribuindo, assim, para a não proliferação de material nuclear sensível", destacou Ordoñez.