Economia

Sob risco de moratória, Argentina se reúne com fundos nos EUA

Juiz bloqueou depósito de 539 milhões de dólares da Argentina a um banco de Nova York para pagar uma parte de sua dívida reestruturada

Agência France-Presse
postado em 24/07/2014 18:19
Nova York - A uma semana do vencimento da dívida que poderá levar a Argentina a uma moratória, representantes do governo se reúnem em Nova York com o mediador judicial do caso para buscar uma saída negociada com os fundos especulativos que acionaram o país na justiça americana.

Javier Pargament (esquerda), o vice-procurador-geral para a Argentina, chega para conversações de negociação da dívida com mediador nomeado pelo tribunal Daniel Pollack, em Nova York

A comitiva argentina, integrada pela procuradora do Tesouro, Angelina Abbona; pelo secretário de Finanças, Pablo López; e pelo de Assuntos Legais e Administrativos, Federico Thea, chegou ao escritório do mediador Dan Pollack pouco antes das 12h30 locais (13h30 de Brasília) sem dar declarações, constatou a AFP.

O encontro acontece em meio a rumores sobre uma mudança de estratégia dos fundos para pedir ao juiz federal, Thomas Griesa, o restabelecimento de uma medida cautelar que permitiria a Buenos Aires continuar pagando até o final do ano os credores da dívida reestruturada em 2005 e 2010, em troca do depósito de uma garantia.



[SAIBAMAIS]O NML Capital e outros fundos especulativos têm uma sentença de Griesa a seu favor, ratificada pela Suprema Corte dos Estados Unidos, em um valor total de 1,33 bilhão de dólares pelos títulos da dívida soberana argentina declarada suspensa em 2001.

Esses fundos, que Buenos Aires chama de "abutres", compraram esses títulos já em default e depois litigaram na justiça americana, rejeitando a renegociação proposta pela Argentina em 2005 e 2010, com remunerações de até 70% sobre o valor nominal e que contou com o acordo de cerca de 92,4% dos credores.

Após a ratificação de sua decisão pela Suprema Corte, Griesa bloqueou no dia 27 de junho um depósito de 539 milhões de dólares da Argentina a um banco de Nova York para pagar uma parte de sua dívida reestruturada, exigindo que o pagamento simultâneo fosse feito aos litigantes.

Se este pagamento aos credores que aceitaram a renegociação não for efetuado até o final do prazo de carência, em 30 de julho, o país poderá entrar em moratória técnica, que é diferente do colapso vivido pelo país no fim de 2001 mas pode gerar consequências imprevisíveis para a economia argentina.

Mudança na estratégia dos fundos?

Na última terça-feira, o magistrado rejeitou um pedido argentino de restabelecimento de uma medida cautelar para suspender a execução da sua sentença e convocou as partes a negociar de modo "contínuo" para evitar um "default".

Segundo a Argentina, a suspensão da decisão até o fim do ano é uma condição imprescindível para que possa negociar com os fundos, na medida que o país precisa evitar que seja aplicada a cláusula prevista nos contratos da renegociação que afirma que qualquer melhoria na oferta pela dívida deve ser estendida a todos os credores.

Conforme expôs nesta quinta-feira a imprensa argentina, os fundos podem mudar de estratégia e pedir eles mesmos ao juiz que restabeleça a cautelar, em troca de que Buenos Aires deposite uma determinada quantia para garantir o pagamento até o final de 2014. A versão foi classificada de "ficção" por um dos fundos envolvidos no litígio, o Aurelius Capital, através de seu presidente, Mark Brodsky.

O governo argentino, por outro lado, disse não ter conhecimento da proposta e afirmou que "ninguém pode exigir uma garantia a um país soberano". "Não houve qualquer notificação sobre o que os fundos abutres vão propor", afirmou o chefe de gabinete Jorge Capitanich.

A Argentina se afastou dos mercados de capital após a moratória e as necessidades de financiamento do governo são cobertas em boa medida graças a uma política comercial que prioriza o superávit.

Na quarta-feira, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu a estratégia de seu país de enviar o dinheiro para pagar os credores da dívida reestruturada, negando que o país vá entrar em moratória.

"Quero dizer a todos os argentinos que a Argentina não vai cair em default por uma razão muito simples, essencial: porque entram em default os que não pagam e a Argentina paga", afirmou Kirchner.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação