postado em 31/07/2014 12:37
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, evita classificar de default (calote) a situação da Argentina em relação aos credores dos chamados fundos abutres. Para ele, neste momento, há apenas um ;impasse;, pois o mercado ;já se adaptou; à crise.;Acho que o mercado meio que se ajustou a um possível impasse. Não chamaria de default, chamaria de impasse. O mercado já se adaptou. Já precificou. Portanto, não terá no curto prazo nenhuma consequência maior;, disse.
Os fundos têm sido chamados de abutres, porque compraram papéis da dívida argentina a preços baixos depois da moratória de 2001 e entraram na Justiça para cobrar o valor integral, sem o desconto, como aceitaram os outros credores. A Justiça, então, concedeu aos fundos abutres o direito de receber a totalidade da divida (US$ 1,3 bilhão), sem desconto, e com os juros acumulados durante o longo processo.
[SAIBAMAIS]Mas, para Mantega, a Argentina não pode ser considerada em default porque tem pago as dívidas, inclusive com o Clube de Paris (formado por 19 países), o que ocorreu recentemente. Isso mostra, segundo ele, que a Argentina não está dando um calote. ;É uma situação sui generis. [É] uma situação excepcional, porque quem está impedindo ela de fazer os pagamentos é um juiz americano. Acho que ainda há uma margem de negociação.;
O ministro avalia ainda que se a Argentina deixar de fazer os pagamentos os fundos abutres, esses mesmos investidores também perderão. Por isso, é importante que haja uma negociação. De acordo com Mantega, é melhor para os credores receber uma parte do que, nada.
Mantega defende que o impacto, neste primeiro momento no Brasil, é nulo e sem consequências direta e que não afeta o mercado internacional. Na avaliação do ministro, existe um problema maior e que poderá impactar em novas renegociações de dívidas externas de vários países no futuro. ;Vou dar um exemplo: ;recentemente foi feita uma reestruturação da Grécia e lá se chegou a um acordo parecido com o da reestruturação da dívida argentina;. Agora, com a decisão da corte americana pode comprometer futuras reestruturação de dívidas;, avaliou.
Ele destacou que haverá reações da comunidade internacional da forma como o problema está sendo conduzido e que o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) tem criticado a situação. ;Não é um questão circunscrita à Argentina. Devemos trabalhar para tentar reverter essa situação e não permitir que essa reestruturação legítima que a Argentina fez no passado seja inviabilizada.;
Para o ministro, mesmo uma agência rebaixando a nota de risco da Argentina, não significa que o mercado financeiro já tenha considerado o país em default porque as negociações ainda podem continuar. ;Existem outras soluções. Por exemplo, alguma instituição financeira comprar os títulos dos abutres, porém com valores menores. Eles estão jogando tudo ou nada, mas as negociações valem a pena. Não vamos nos precipitar.;
As consequências no primeiro momento são para a Argentina porque ela terá mais dificuldade de captação no mercado externo e prejuízo na atividade econômica, que poderá ser um pouco menor do que está sendo, além do comércio exterior, no entendimento de Mantega. Mas como o país é exportadora de commodities (básicos) poderá ter um caixa nesse segmento.