postado em 07/08/2014 10:43
A redução de custos, considerada o principal desafio para o comércio exterior brasileiro, é o tema central do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex 2014), que a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) promove nesta quinta-feira (7/8) e amanhã no Rio de Janeiro. Devido aos custos praticados no país, os produtos manufaturados estão perdendo competitividade, disse à Agência Brasil o presidente da AEB, José Augusto de Castro.;Desde 2008, até 2013, não houve crescimento nenhum, em termos de valor, das exportações de manufaturados. Isso se deve, basicamente, aos custos de produção no Brasil, que estão muito elevados;, disse Castro. Segundo ele, isso inibe a competitividade do produto nacional no exterior.
O presidente da AEB referiu-se, principalmente, à redução do custo em logística, que envolve investimentos em infraestrutura, além de redução dos custos tributários, previdenciários, trabalhistas e burocráticos. ;Esses são os fatores principais;, acrescentou.
Castro argumentou que enquanto o número de empresas exportadoras vem caindo nos últimos anos, o número de importadoras tem aumentado. Em 2007, por exemplo, as empresas exportadoras somavam 20.889, contra 28.911 companhias importadoras. Em 2012, o número de empresas exportadoras caiu para cerca de 19.300. Em contrapartida, as empresas importadoras subiram para algo em torno de 43.500, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
;Isso mostra claramente que como produzir no Brasil está caro, não conseguimos exportar. As empresas deixam de participar do mercado externo. Em contrapartida, importar é mais barato do que produzir aqui. Então, o número de empresas importadoras cresce e, com isso, aumentamos as importações, como tem ocorrido nos últimos anos;, argumentou José Augusto de Castro. Ele informou que hoje o número de empresas importadoras já é mais que o dobro das exportadoras.
Isso é péssimo para o país, disse o presidente da AEB, porque ;cada vez que eu aumento o número de empresas importadoras, estou gerando empregos no exterior, e não no Brasil. E cada vez que eu diminuo o número de empresas exportadoras, estou deixando de gerar empregos aqui;. O que se observa, acentuou, é que a participação de produtos importados na pauta brasileira de consumo está aumentando. ;O consumo aumenta, mas a produção não aumenta. Significa que essa parcela de consumo que está sendo aumentada, mas não é acompanhada pelo aumento da produção, é suprida por produtos importados. Ou seja, está ocupando espaço brasileiro;.
Castro disse que o problema dos custos elevados afeta as empresas de todos os portes, sobretudo as pequenas e médias, que carecem de boa estrutura e de pessoal treinado. ;Essas sofrem muito mais. As pequenas e médias são as mais afetadas pela crise, porque têm custo de produção normalmente maior que a grande empresa. Com isso, não têm condição de participar do mercado externo;.
Para ele, a alternativa para essas empresas seria ter uma taxa de câmbio que compensasse as deficiências de custo no mercado interno. Ele lembrou, porém, que como a taxa de câmbio não compensa essa defasagem de custo, as empresas perdem competitividade e são obrigadas a sair do mercado. Uma solução seria a reunião de pequenas companhias em consórcios de exportação, como predomina na Itália, por exemplo. Como não existe essa figura jurídica na legislação brasileira, a solução não pode ser adotada. A medida contribuiria para racionalizar custos e tornar as empresas mais competitivas, defendeu o presidente da AEB.
Castro informou que de todos os setores exportadores, o que tem mostrado maior evolução é o de serviços de engenharia, devido à sua característica de ter que pensar sempre muito à frente, ;no mínimo cinco anos;. Segundo ele, o setor de engenharia tem técnica específica de estruturação de negócio, que permite fazer uma cotação reunindo, em um único pacote, a venda do serviço, os bens que serão utilizados na execução e os bens que serão instalados no próprio serviço. ;Não é que o câmbio não prejudique o setor. Mas, como eles projetam a longo prazo, conseguem contornar essa defasagem cambial;. Com um câmbio melhor, o setor teria maior competitividade em termos de preço.