postado em 03/09/2014 07:50
Diante do atual quadro de paralisia da economia brasileira, mesmo as boas notícias não têm conseguido empolgar. A mais recente delas foi a divulgação, nessa terça-feira (2/9), da produção industrial de julho, que entrou em campo positivo após cinco meses consecutivos de quedas.
À primeira vista, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traçam um cenário otimista para a indústria. Em julho, a produção nas fábricas avançou 0,7%, o melhor resultado desde janeiro deste ano. Além disso, a recuperação alcança 20 dos 24 ramos pesquisados pelo instituto, com destaque para dois setores ligados ao investimento, como a fabricação de máquinas e equipamentos, e a indústria automotiva, com expansões de 7% e 8,5%, respectivamente.
Não por acaso, os números foram comemorados pelo governo. ;(A alta da indústria após cinco meses de queda) é um indicador importante de que neste terceiro trimestre teremos um crescimento positivo (da economia);, emendou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, a reação da indústria é sinal, inclusive, de que o país não entrou em recessão, apesar de dados recentes do IBGE mostrarem que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu durante dois trimestres consecutivos. ;A economia não está parada;, garantiu Mantega, para quem a atividade enfrentou ;problemas passageiros; neste início de ano. ;No segundo semestre, vamos em direção a uma gradual melhoria (da economia), garantiu.
A euforia do ministro não contagiou o setor privado. ;Infelizmente, não há muito que comemorar;, disse a nota assinada pelos economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ao olhar atentamente os números divulgados pelo IBGE, eles chegaram à conclusão de que os resultados de julho não inspiram confiança numa retomada da produção industrial. ;Boa parte dos ramos industriais com desempenho espetacular em julho vinha acumulando resultados muito ruins nos últimos meses;, escreveram os técnicos, na análise.
É o caso da produção de veículos. Nem mesmo a forte alta de 8,5% registrada em julho foi suficiente para reverter o tombo na fabricação de automóveis no acumulado do ano. Muito pelo contrário. A queda que até junho era de -16,9% acelerou para 17,7%, no mês seguinte. O mesmo ocorreu com as indústrias que produzem máquinas e equipamentos. Em julho, registraram alta de 7%, mas, no acumulado do ano, ainda acumulam perdas de 5,3%.
Até mesmo o crescimento registrado em julho, de 0,7%, é visto com desconfiança pelos analistas. ;Ainda não dá para saber se esse resultado representa a reversão de uma tendência negativa ou é um mero salto de gato morto;, questionaram os economistas do Espirito Santo Investment Bank (BES). Pesa ainda o fato de que a alta de julho nem sequer cobriu a metade das perdas registradas em junho, de 1,4%. Pior do que isso. Ao observar os resultados de um ano atrás, a situação da indústria é ainda mais crítica: no comparativo com julho de 2013, a produção nas fábricas despencou 3,6% e, no ano, o saldo ainda é negativo em 2,8%. (Colaborou Celia Perrone)