Economia

Importação e carência de pessoal inibem desenvolvimento do setor químico

Deficit dos manufaturados chegou a US$ 32 bilhões este ano

postado em 08/09/2014 19:34
Com participação de US$ 32 bilhões de toda a cadeia química no déficit da balança comercial brasileira de produtos industrializados no ano, o setor mostra que seu desenvolvimento não foi beneficiado pelas conquistas econômicas e sociais que ocorreram recentemente no país, de acordo com a gerente de Tecnologia e Inovação da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Mariana Dória. No ano passado, o déficit dos manufaturados foi ainda maior: atingiu US$ 105 bilhões.

Em análise para a Agência Brasil, ao participar do Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação, aberto nesta segunda-feira (8/9), no Rio de Janeiro, ela disse que ;todo o desenvolvimento que ocorreu no país, a expansão da classe média, não beneficiaram diretamente o setor. Ele foi suprido com produtos de maior valor agregado, proveniente de fora". A gente importa produtos químicos, de maior valor agregado, e exporta produtos químicos de menor valor agregado, informou.

Mariana acrescentou que se considerar toda a cadeia química, em especial fármacos e química fina, ocorre uma importação muito significativa e uma exportação mais de produtos de uso industrial, de commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional). Segundo ela, para que haja superação do déficit é preciso agregar valor ao produto químico nacional. ;É necessário agregarmos tecnologia;, ressaltou.


Intensivo em tecnologia, o setor químico se ressente da falta de profissionais qualificados, em especial mestres e doutores que desenvolvam tecnologia e inovação para o mercado, difíceis de serem encontrados. Segundo a gerente da Abiquim, a mão de obra especializada evoluiu muito no Brasil, nos últimos 20 anos, mas até ter maturidade e formar um pesquisador leva tempo. "Mesmo com todos os incentivos existentes, os profissionais vão dar resultado somente em cinco ou dez anos. Não menos tempo do que isso;, estimou.

Houve avanços, na última década, em termos de marcos regulatórios e instrumentos de fomento à inovação, comentou, e ;nos últimos dois anos, teve novos instrumentos de fomento que auxiliaram muito a indústria a buscar o caminho da inovação;. Mariana Dória lembrou que, muitas vezes, como a inovação no setor apresenta muito risco, tem retorno somente no médio e longo prazo e carece de altos investimentos, e ;não é possível a indústria fazer, sozinha, esses investimentos;. O retorno só ocorre no prazo de dez a 15 anos, destacou. Daí a importância da parceria com o governo.

O seminário que a Abiquim promove até amanhã (9) discute as particularidades e os incentivos à inovação no setor químico nacional. Mariana defende o trabalho em conjunto entre governo, centros de pesquisa e empresas para incentivar o desenvolvimento tecnológico da indústria química, pois ;a gente precisa sempre da sinergia entre os três atores;.

Destacou, entretanto, que ainda faltam linhas de fomento específicas para escalonamento industrial, ;porque são investimentos, às vezes, de dez anos para tirar o projeto da bancada e colocar em uma planta industrial;. Existem também gargalos que Mariana incluiu no chamado custo Brasil. Ela disse que é muito caro construir centros de pesquisa no país, "porque você precisa de muitas máquinas e equipamentos laboratoriais, todos importados. É caro importar, e existem não só taxas, mas toda burocracia. Às vezes, você demora seis ou oito meses para ter uma máquina no seu laboratório, e isso retarda e encarece a pesquisa, sinalizou.

A inovação tecnológica é considerada fator estratégico para a competitividade da indústria química brasileira. Único evento de tecnologia do setor químico no Brasil, o seminário da Abiquim objetiva discutir o desenvolvimento do setor que leve em conta a sustentabilidade, a geração do conhecimento e o aumento do emprego de alta qualidade no país.

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