Jornal Correio Braziliense

Economia

'Revolução dos guarda-chuvas' começa a afetar economia em Hong Kong

Consequências financeiras de um agravamento da situação concentram todos os temores, já que a ilha e seus territórios representam uma importante engrenagem do motor capitalista da China


Centenas de bilhões de dólares são movimentados todos os dias nos mercados de divisas, de matérias-primas, no sistema interbancário e na Bolsa de Hong Kong, onde pesos pesados do setor financeiro (como HSBC), das telecomunicações (China Mobile) ou da energia (PetroChina) são negociados.

O mercado de Hong Kong é considerado o terceiro mais eficiente do mundo, atrás apenas de Nova York e Londres, de acordo com o ranking da empresa Z/Yen com sede na capital britânica, elaborado por meio de uma ampla pesquisa bianual de profissionais.

Cingapura, a beneficiada?


Esta plataforma financeira foi constituída pacientemente, em particular durante a segunda metade do século XX, pelos cidadãos de Hong Kong, pelo chineses que fugiram dos comunistas que chegavam ao poder em Pequim em 1949, pelos britânicos e outros ocidentais.

"Durante o período colonial britânico, Hong Kong foi testemunha de um período de relativa paz e prosperidade", disse o analista independente Howard Wheeldon, que cita apenas alguns poucos incidentes entre os diferentes segmentos da população.

[SAIBAMAIS]As agitações esporádicas, no entanto, nunca ameaçaram a imagem de tranquilidade demonstrada por Hong Kong, que na encruzilhada de influência americana, soviética e chinesa durante a Guerra Fria. A devolução da colônia à China há 17 anos não rompeu este equilíbrio apreciado pelos investidores, apesar das tensões periódicas entre as forças democráticas e os partidários da linha oficial chinesa.

Segundo Ivan Tselichtchev, professor de Economia na Universidade de Gestão de Niigata (Japão) e especialista na região, a força de Hong Kong no tabuleiro financeiro está relativamente pouco ameaçada porque "as autoridades chinesas e de Hong Kong têm poder e recursos suficientes para conter problemas significativos".

Mas, acrescenta, "estes protestos colocam em destaque o risco político associado à prática de ;um país, dois sistemas;, introduzida por Pequim em 1997" para salvaguardar o sistema capitalista da economia britânica. "O risco é estrutural, e os investidores vão pensar mais nisso", sustentou.

Tudo dependerá de como as autoridades administrarem a disputa. Pequim sabe muito bem o impacto devastador que uma imagem de repressão feroz teria sobre a economia de Hong Kong e da China em seu conjunto.

"O governo de Hong Kong provavelmente não vai tolerar por muito tempo a ocupação das principais artérias comerciais e pode permitir que a polícia utilize a força para esvaziar as ruas. E não é possível descartar o envio das forças de segurança", disse Leather, da Capital Economics.

"Tal cenário seria um golpe para a situação de Hong Kong como centro financeiro internacional, que depende da manutenção de um estado de direito, de um governo estável e de uma agradável qualidade de vida", afirma.

A cidade-Estado de Cingapura será, provavelmente, a principal beneficiada com a saída de bancos e serviços financeiros se o dano colateral da repressão também afetar a confiança em centros chineses como Shenzhen e Xangai.