Simone Kafruni
postado em 20/10/2014 08:20
Quem sair vitorioso na eleição presidencial do próximo domingo terá de encarar a missão quase impossível de sanar o caos elétrico, torcendo para que as chuvas venham generosas. A estiagem e, sobretudo, as intervenções do governo deflagradas pela Medida Provisória (MP) 579, de 2012, provocaram o desarranjo em um setor vital para o desenvolvimento do país. Sem energia, não há produção nem expansão da atividade econômica. O rombo gerado pela atual crise já passa de R$ 70 bilhões, fatura que será rateada entre todos os consumidores. Para os especialistas, a retomada da confiança no mercado energético exigirá mudanças, começando pelo estímulo à expansão da oferta.O atraso na entrega de obras de geração, o descompasso entre as obras de linhas de transmissão e as de usinas, as limitações da modicidade tarifária ; política focada no menor preço ao consumidor ;, e obstáculos da legislação ambiental, que impedem a construção de grandes reservatórios limitaram a produção de energia renovável. Isso somado à seca prolongada fez o país se tornar dependente das termelétricas, que vendem eletricidade a preços muito mais elevados. Nunca a despesa com fontes térmicas foi tão expressivo quanto agora.
[SAIBAMAIS]O consumo de energia elétrica no Brasil atingiu 59.291 megawatts (MW) médios de 1; a 14 de outubro, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A geração de energia totalizou no período 62.299 MW médios. Com as represas em níveis quase tão baixos quanto foram em 2001, ano do racionamento, a geração hidrelétrica despencou e precisou ser compensada pela expansão de 39,9% da geração a gás, óleo diesel e carvão. As térmicas produziram 17.963 MW médios na primeira quinzena de outubro, 28,8% do total, um recorde histórico.
Dívida crescente
Com as térmicas ligadas a todo vapor desde 2013 e a pressão da presidente Dilma Rousseff para garantir o desconto médio de 20% na conta de luz prometido com a MP 579, uma manobra considerada eleitoreira, o setor se endividou de forma rápida e acentuada. As distribuidoras ; descobertas pela falta de energia leiloada em razão de falhas no planejamento do governo ; tiveram que recorrer ao mercado à vista, onde o Preço da Liquidação das Diferenças (PLD) permaneceu no teto (R$ 822,83 o MW/hora) a maior parte do ano. Sem caixa, as distribuidoras pediram socorro ao governo.
Além de aportes do Tesouro, que serão pagos pelos contribuintes, na forma de impostos, o governo obrigou o setor a tomar quase R$ 18 bilhões em empréstimos bancários. O financiamento vai custar R$ 26,6 bilhões, acrescendo os juros, e será cobrado dos consumidores via aumento na conta de luz, entre 2015 e 2017. ;O brasileiro vai pagar a conta, com o bolso direito, como consumidor, e com o bolso esquerdo, como contribuinte;, ilustrou Walter Fróes, diretor da CMU Comercializadora de Energia.
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