Simone Kafruni
postado em 01/11/2014 06:55
O Banco Central (BC) perdeu R$ 18,4 bilhões em setembro com operações de swap cambial, equivalente à venda futura de dólares. Desde agosto de 2013, a autoridade monetária realiza essas operações para tentar conter a escalada da moeda norte-americana. Foram colocados R$ 100 bilhões no mercado, dentro de um programa chamado de ração diária. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, lembrou que houve ganho de R$ 2,5 bilhões em agosto, e o resultado ;deve voltar a ser positivo; em outubro.Setembro, contudo, foi o mês que antecedeu a eleição presidencial, período em que o valor da divisa norte-americana oscilou muito e registrou ganhos expressivos diante do real. Por isso, as perdas atingiram R$ 18,4 bilhões. A expectativa é de que as rações diárias do BC devem ser mantidas em 2015 para evitar que a possível elevação dos juros dos Estados Unidos provoque nova disparada do dólar e, por tabela, pressione a inflação.
Os temores com 2015 se explicam. O banco de investimento Morgan Stanley cortou a projeção para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, de um pífio crescimento de 0,3% para uma retração de 0,3%. Para 2014, Morgan Stanley espera expansão de 0,2% do PIB. ;A combinação anunciada de políticas fiscal e monetária mais apertadas, se for sustentada, provavelmente causará uma recessão em 2015;, justificou o banco de investimento norte-americano em relatório divulgado ontem.
Para o Morgan Stanley, o BC, que aumentou a taxa básica de juros (Selic) na quarta-feira, de 11% para 11,25% ao ano, deve levá-la a 12% até março. No segundo semestre, a expectativa é de redução, terminando o ano em 10,5%. ;O desafio mais imediato do Brasil é enfrentar a deterioração das contas públicas. A indisciplina fiscal dos últimos anos deverá ser enfrentada pelo governo no próximo ano, mas possivelmente não será agressiva o suficiente para estabilizar a trajetória da dívida líquida;, analisou.
Na avaliação dos economistas da instituição, a política fiscal tem uma ;preocupante; combinação de transparência insuficiente e de deterioração. ;Acreditamos que os dois precisam ser enfrentados o mais rápido possível para recuperar a confiança e reduzir os prêmios de risco. Mas os ajustes necessários não são indolores, e tememos que a Administração não está pronta para suportar a dor;, resumiu.
Como resultado, há a preocupação em torno das mudanças de políticas, uma vez que as projeções do governo ;continuamente otimistas; não se concretizam. Para o Morgan, o desfecho será o aumento dos juros de longo prazo e uma recuperação decepcionante. Não por acaso, o banco reduziu também a estimativa para a expansão do PIB em 2016 de 2% para 1,3%.