postado em 14/11/2014 06:07
O governo não podia ter escolhido pior momento para abandonar a meta de superavit primário de 2014. A dívida não para de subir e a despesa com juros abocanha uma fatia cada vez maior da receita com impostos. Para completar, a arrecadação tributária despencou com estagnação econômica. Tudo isso resultou numa piora do saldo nominal das contas públicas, que inclui todas as despesas do setor público, inclusive encargos financeiros. Nesse quesito, o Brasil tem um deficit quase três vezes superior à média dos países emergentes, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).As projeções são de que o deficit nominal alcance 5% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim de 2014. Países emergentes e de renda média, com economia similar à brasileira, terão saldo negativo de 1,9% do PIB. Mesmo os países ricos, que se endividaram bastante durante a crise mundial, apresentarão resultado melhor: 3,9% do PIB. Não por acaso, em documento a ser apresentado na reunião do G20, neste fim de semana, o FMI recomenda que Brasil, Índia e Turquia promovam um sólido ajuste fsical.
Com a receita em queda e sem cortar gastos, o país passou a recorrer cada vez mais ao mercado financeiro, emitindo títulos para cobrir as despesas. A consequência disso é que só a conta financeira vai engolir 5,5% do PIB neste ano, o valor mais elevado desde 2009, quando o país lutava contra os estragos da crise mundial. As despesas com o serviço da dívida já equivalem ao orçamento de oito anos do Bolsa Família. Pior do que isso. Como está mais endividado do que nunca e sem contar com a credibilidade do mercado, o governo passou também a pagar juros altíssimos para se financiar. Em setembro, o custo médio da dívida mobiliária foi de 18,6% ao ano. Isso para um endividamento que já chega a R$ 2,183 trilhões, considerado apenas o passivo nas mãos de investidores.
O governo poderia reduzir a dependência do mercado financeiro se, em vez de abandonar, reforçasse o superavit primário, que corresponde à economia necessária para pagar os juros da dívida e evitar que ela cresça. Este ano, a meta era de obter um saldo de R$ 99 bilhões, mas, até setembro, a conta está no vermelho em R$ 25,5 bilhões. Ou seja, em vez de abater parte do débito, o governo está permitindo que ele aumente.
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