Economia

Nova equipe enterra promessas de Dilma: Arrocho de mais de R$ 50 bilhões

Objetivo é recuperar a credibilidade e garantir superavit nas contas públicas - que será de 1,2% do PIB em 2015

Antonio Temóteo, Simone Kafruni, Rosana Hessel
postado em 28/11/2014 06:21
Numa cerimônia que durou menos de 20 minutos, os três principais nomes da nova equipe econômica foram anunciados ontem sem qualquer surpresa. Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e Alexandre Tombini, reconduzido ao Banco Central, fizeram pronunciamentos breves e, rapidamente, desconstruíram o discurso de campanha da presidente Dilma Rousseff, que, talvez por isso, tenha optado por não participar do anúncio oficial. O roteiro foi exatamente o esperado pelo mercado financeiro. Portanto, quem pode se surpreender são as famílias brasileiras. A promessa é de um arrocho de mais de R$ 50 bilhões, com um profundo corte de gastos, no qual nem programas sociais serão poupados, e aumento de juros e de impostos.

Alexandre Tombini, Joaquim Levy e Nelson Barbosa: ainda antes da posse, triunvirato que vai comandar a economia passa, a partir de hoje, a despachar no Palácio do Planalto

A posse dos novos integrantes do governo está condicionada à aprovação das mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o que só deve ocorrer na terça-feira que vem. No entanto, o novo time começa hoje a despachar no terceiro andar do Palácio do Planalto, e o Brasil passa a ter duas equipes econômicas: a que vai, efetivamente, mandar a partir de agora e outra, que só vai assinar os atos até o fim do ano, um fato nunca visto na história do país. Os futuros protagonistas defenderam uma postura de maior rigor, transparência fiscal e controle da inflação e, com o claro objetivo de resgatar a confiança de investidores e de empresários, colocaram fora a política econômica do primeiro mandato de Dilma.



Com uma postura altamente técnica, sem cumprimentar os colegas de mesa como rege o protocolo político, Levy iniciou seu discurso afirmando que, ;mais do que uma honra, é um privilégio; suceder Guido Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda no período democrático. Contudo, deixou claro que não pretende rezar pela mesma cartilha do antecessor. ;O objetivo imediato do Ministério da Fazenda é estabelecer uma meta de superavit primário para os três próximos anos compatível com a estabilização e o declínio da dívida bruta do governo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB);, disse.

Levy afirmou que o governo precisa economizar, pelo menos, 2% do PIB para pagar os juros da dívida. Mas admitiu que isso não será possível ainda em 2015. ;Não devemos chegar aos 2% no ano que vem. Portanto, vamos trabalhar com a meta de 1,2% do PIB em 2015. Mas ela não será menor do que 2% em 2016 e 2017;, assinalou. Ele deixou claro ainda que será preciso interromper a transferência de recuros do Tesouro para os bancos oficiais, outro pilar da atual política. ;O Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a transparência de suas ações;, prometeu.

Levy observou ainda que a taxa de poupança é baixa e sugeriu que é chegada a hora de todos os brasileiros economizarem mais, dinamitando a matriz econômica de Mantega, que dirigiu o foco ao consumo e ao expansionismo fiscal. ;Nossa prioridade tem que ser o aumento da taxa de poupança. Para isso, o governo federal dará o exemplo, aumentando o superavit primário e contribuindo para que os outros entes da federação, as empresas e as famílias sigam o mesmo caminho, fortalecendo nossa capacidade de investir e crescer.;

Dois senhores
Mantido na presidência do BC, Tombini foi o último a discursar e assegurou que, com a ajuda de uma política fiscal mais conservadora, será mais fácil reconduzir a inflação para o centro da meta, de 4,5%. De qualquer modo, o peso vai recair no bolso dos brasileiros, já que, para isso, o BC terá que aumentar ainda mais os juros. A taxa básica, que passou de 11% para 11,25% ao ano em outubro, deve saltar para 11,75% na próxima quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pela última vez neste ano.

Um assessor do Planalto garantiu que Levy e Barbosa devem mudar os principais secretários e assessores para dar uma nova cara aos ministérios. ;A Fazenda deixará de ter dois senhores (numa alusão a Mantega e Arno Augustin, secretário do Tesouro) para ter um único chefe;, afirmou. No Planejamento, onde as coisas demoravam a acontecer porque tudo passava pela titular Miriam Belchior, o novo ministro tenderá a descentralizar os processos para que a pasta deixe de cuidar apenas do orçamento. ;Eles terão liberdade para escolher as equipes;, acrescentou.

Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a equipe fará o ajuste necessário, sem, contudo, levar o arrocho além da conta. ;A ideia foi montar um grupo mais conservador para que os juros de longo prazo caiam e o governo possa retomar os investimentos;, analisou. Sérgio Vale, da MB Associados, não viu profundidade nos discursos. ;Vamos ver se o ministro da Fazenda fará tudo de forma independente. Tenho dificuldade de acreditar que Dilma vai aceitar um superavit duro como esse sem reclamar;, disse.

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