Agência France-Presse
postado em 04/12/2014 14:08
Buenos Aires - A Argentina anunciou nesta quinta-feira (4/12) o pagamento adiantado de 6,7 bilhões de dólares por um título que vencerá em outubro de 2015, como sinal de força em meio ao litígio com fundos especulativos nos Estados Unidos.O pagamento será financiado em parte com uma nova emissão da dívida. A negociação será voluntária e disponível a partir da semana que vem. O objetivo do governo é iniciar a negociação com os fundos especulativos que conseguiram na justiça americana uma sentença favorável à cobrança de 1,3 bilhão de dólares pela dívida em moratória.
A Argentina se nega a cumprir a decisão do juiz de Nova York Thomas Griesa sob o argumento de que isso implica quebrar uma cláusula das renegociações de 2005 e 2010, que vence no dia 31 de dezembro e obriga o país a equiparar pagamentos a todos os credores. Após essa data, a Argentina estará livre para negociar com os fundos.
"Vamos pagar de forma voluntária e antecipada o (bônus) Boden 2015. Isso acontecerá entre 10 e 12 de dezembro", disse o ministro da Economia, Axel Kicillof, em coletiva de imprensa.
"Os que têm esses títulos que vencem no ano que vem por 6,7 bilhões podem vir, que o Estado os comprará por um preço similar ao de mercado, de 97 dólares por cada 100 dólares de valor nominal", explicou Kicillof. Kicillof afirmou que a renegociação desses títulos será feita em dinheiro e ao valor de mercado, uma decisão que busca demostrar "vontade e capacidade de pagamento".
Jogada política
"Esta jogada é política mais do que econômica e demonstra quão difícil será a negociação a partir de janeiro", disse à AFP o economista Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica. "A medida ajuda a Argentina a negociar com menos pressão para um acordo rápido, já que as dívidas de 2015 estarão pagas e isso lhe dará mais força na mesa de negociação", opinou.
A oferta do governo inclui a possibilidade de renegociar os bônus por seu valor de mercado em dinheiro, ou de trocar por títulos com vencimento em 2024. O ministro anunciou uma nova emissão de títulos por 3 bilhões de dólares "para que os credores possam investir no país".
Trata-se do mesmo título que a Argentina emitiu para pagar 5,4 bilhões de dólares à espanhola Repsol pela nacionalização da petrolífera YPF em maio do passado.
2015 ou 2016?
Embora o ministro tenha considerado que a medida busca "impedir as manobras especulativas" em torno do preço dos títulos argentinos, Castiñeira considerou que a especulação "é bem mais política". O ministro em sua apresentação admitiu que os Boden 15 são avaliados "abaixo de outros títulos (soberanos argentinos) que vencem bem depois", o que atribuiu a "manobras especulativas".
"Os fundos especulativos sabem que se não entrarem em um acordo com esse governo antes do final de 2015, eles terão que negociar com o próximo em 2016 e alguns candidatos da oposição como (o direitista Mauricio) Macri já anteciparam que, se forem governo, pagarão tudo o que devem. Então, por que correr para fechar um acordo antes?" - perguntou.
A Argentina realizará suas eleições presidenciais em outubro de 2015 e há pouco mais de um ano a oposição se apresenta polarizada e o governo não tem um candidato respaldado pela presidente Cristina Kirchner.