Economia

Ex-ministro diz que escassez de água deixará recurso mais caro para todos

Segundo José Carlos Carvalho, quem quiser manter uma piscina em casa ou tomar banhos de 30 minutos deverá saber que pagará caro por isso

Vera Batista
postado em 04/12/2014 19:55

As mudanças climáticas, especialmente as que provocaram a redução das chuvas em vários locais do país, apontam para uma nova realidade de escassez de água e de práticas de uso restrito e consciente do manancial ainda disponível, no Brasil. O resultado mais contundente do desperdício de séculos, resultado do falso conceito de que os recursos naturais eram infinitos, vai começar a doer no bolso do brasileiro. Os preços da tarifa de energia elétrica vão ficar inevitavelmente mais salgados para o consumidor. E quem gasta mais e tem maior poder aquisitivo precisará fazer também desembolsos mais robustos. A situação atual, que pegou alguns de surpresa, apesar de desagradável, poderá se transformar em uma excelente oportunidade para reflexão.

O alerta foi dado nesta quinta-feira (4/12) pelo ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, durante o Fórum das Águas - Escassez Hídrica e Saneamento, Impactos e Oportunidades, em Inhotim, Minas Gerais. ;Não se iludam. Escassez resulta em aumento de preço. O objetivo não é assustar a população. Mas mostrar que teremos que nos adaptar a uma situação nova;, reforçou Carvalho, referindo-se à queda nos níveis de reservatórios de água, na região Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo, local onde se adotou uma política na qual quem gasta menos ganha um bônus, mas pouco se fez para punir os perdulários, afirmou o ex-ministro. Na composição da taxa de cobrança de água, atualmente, os governos cobram apenas a distribuição. No procedimento para uma revisão, será preciso incluir a exigência de pagamento também do uso água e d conservação das bacias hidrográficas.

;O governo tem que assegurar uma tarifa social. Não é razoável que uma pessoa pobre pague para o uso da água tratada o mesmo que quem mora nos Jardins ; bairro chique paulistano. É importante destacar que, quem quiser ter piscina ou tomar um banho de 30 minutos, vai pagar caro por isso;, reforçou. O primeiro passo para uma mudança de rumo, destacou o ex-ministro, será conscientizar especialmente os jovens das áreas urbanas de que ;a água que ele bebe vem da torneira; e que existe uma cadeia produtiva por trás. As famílias também devem diminuir o ritmo e se ajustar à média mundial de consumo, que hoje é de 150 litros mensais por pessoa. No Brasil, essa média é de 180 litros per capta, no mesmo período. ;Usamos água potável para lavar calçada, carro e até para dar descarga;, ironizou.

Empresários

O empresários também terão que fazer a sua parte. De acordo com o ex-ministro, o governo além de priorizar o consumo para a população, vai ter que financiar novas tecnologias. E se necessário deverá até parar a produção de determinada empresa, se o consumo para o uso geral ficar prejudicado. Mas setores da economia que são usuários intensivos do produto também terão que elevar o nível de comprometimento com o queda no consumo. ;O indústria de transformação e o agronegócio já estão começando a levar o assunto a sério. Surgiram novas tecnologias de irrigação por cotejamento, na qual a água chega apenas onde a planta precisa;, lembrou.

De acordo com José Carlos Carvalho, o Brasil só não passou por um apagão, porque vem apresentando baixos níveis de desenvolvimento. ;Se crescêssemos 4% ao ano, teríamos um apagão;, ressaltou. Uma saída para evitar o caos, disse, é também investir em tecnologias de reuso da água. ;Nas casas, nas indústrias, em todos os lugares. Será preciso uma mudança de paradigma na relação com a natureza;, destacou.

Uma empresa que reduziu pela metade o uso de água e o consumo de energia elétrica foi a Green Mertals, empresa de recuperação ambiental do Grupo de Mineração Bio-Gold, especializada na reciclagem de rejeitos de minério de ferro e pioneira no processo de concentração a seco. Green Metals economiza US$ 215 millhões por ano, ao deixar de utilizar 4,3 bilhões de litros de água. Além disso, passou a consumir 10 vezes menos energia elétrica. Por meio de tecnologia de ponta desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), todo o material passa por um processo de enxugamento, no qual a água é retirada dos produtos e reutilizada no processamento.

A cada tonelada do que é dispensado pelas mineradoras, são retirados 65% de minério de ferro, 15% de areia, para uso da construção civil, e 5% de argila, para produção de cerâmica. ;O processo é tão refinado, que conseguimos do rejeito um produto com teor de ferro de 65% (FE64%),superior ao que é normalmente produzido (FE 62%);, explicou José Guilherme, o diretor de Relações Institucionais da Green Metals., durante o Fórum das Águas, que acontece em Inhotim, Minas Gerais, até a próxima sexta-feira.

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