Economia

Queda do petróleo ameaça produtores mais frágeis como os latino-americanos

A Opep decidiu manter suas cotas de produção, provocando uma nova queda do barril, por pressão dos poderosos produtores do Golfo Pérsico

Agência France-Presse
postado em 05/12/2014 17:18
Caracas- Estados que têm petróleo mas que vivem uma situação financeira diferente a dos países do Golfo: Venezuela, Nigéria, Rússia e Irã são os mais afetados pela redução dos preços da matéria-prima.

A Opep decidiu manter suas cotas de produção, provocando uma nova queda do barril, por pressão dos poderosos produtores do Golfo Pérsico, que com os preços baixos esperam deter o boom da produção de petróleo de xisto.

Os membros menos potentes da Opep e outros países não membros, como a Rússia, desejam reduzir a produção para conter a queda de preços. Seus orçamentos dependem totalmente ou em boa medida do petróleo e diferente de seus colegas do Golfo, não contam com fundos soberanos para amortizar as variações de preços.

"A decisão da Opep aumenta os riscos de problemas nos países-membros que não têm as reservas financeiras necessárias para resistir esta guerra de preços", destacou James Williams, economista especializado em energia na WRTG Economics. "A situação é claramente um desastre para a Venezuela".

"Os exportadores de petróleo como Venezuela e Nigéria requerem uma cotação superior a 100 dólares barril para que seu orçamento nacional se equilibre", destacou a casa de corretagem Xzarnikov. O barril, tanto em Londres como em Nova York, está abaixo dos 70 dólares.

Risco de default

A Venezuela é percebida como o mais frágil entre os produtores de petróleo e na sexta-feira (5/12) anunciou cortes orçamentários. Mesmo com as maiores reservas de petróleo do mundo, suas finanças estão em péssimo estado, em quase total dependência do petróleo de onde obtém 96% de suas receitas.

"A queda dos preços do petróleo aproxima a Venezuela do default", considerou David Rees, analista da Capital Economics. "O governo não tem poupança do boom dos preços do petróleo na última década".

A mesma inquietude foi manifestada por Oliver Jacob, analista da Pétromatrix : "A Venezuela é o elo mais fraco da cadeia e as possibilidades de distúrbios no país em 2015 aumentam". "Tenho a impressão de que haverá mais conflito social pois terá mais recessão, mais inflação, mais pobreza", opinou José Guerra, ex-executivo do Banco Central da Venezuela.

Outro país bastante afetado é a Nigéria. "O governo tomou medidas em meio ao pânico, entre elas uma forte desvalorização", disse à AFP o professor nigeriano Peter Ozo-Eson. "A lição para os produtores de petróleo é que não é muito inteligente depender de apenas uma matéria-prima para sobreviver", destacou o ex-banqueiro Abolaji Oladimej Odumesi.

O socorro da China

O Irã começou a seguir esse conselho, tentando incrementar sua pauta de exportação com produtos petroquímicos e gás natural. "O orçamento é cada vez menos dependente do petróleo", explicou recentemente à AFP o analista Said Leylaz, que assegurou que "o país pode suportar um barril a 75 dólares".

"O governo anunciou em meados de dezembro sua intenção de adotar uma política monetária de austeridade para o ano que vem e aumentar o imposto sobre os lucros",lembrou.

A Nigéria também parece buscar socorro da China, que acaba de anunciar uma duplicação de seus investimentos no país. É a mesma estratégia usada na Venezuela, onde na semana passada o ministro da Economia chinês prometeu "aprofundar os acordos econômicos e financeiros" para compensar a diferença das receitas petrolíferas.



Na Rússia, país que não integra a Opep, o petróleo aporta a metade das receitas fiscais. Desde o anúncio da Opep, o rublo se desvaloriza vertiginosamente. Desde o início do ano, a moeda russa perdeu 40% de seu valor em relação ao euro e mais de 60% em relação ao dólar. A Rússia decidiu que reduzirá suas exportações de petróleo unilateralmente.

"Com a queda dos preços do petróleo e a dívida de 60 bilhões de dólares do grupo petrolífero Rosneft, controlado pelo Estado, o impacto sobre a economia russa poderia ser pesado e afetar seu potencial de expansão", considerou Petra Kuraliova, da TradeNext.

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